O Minor Planet Center (MPC), da União Astronômica Internacional (IAU), emitiu em circular a confirmação do objeto A11pl3Z como um visitante interestelar, conferindo a nomenclatura definitiva 3I/ATLAS. O objeto, no entanto, exibe características cometárias, o que lhe confere um segunda designação: C/2025 N1 (ATLAS), seguindo a regra para nomenclatura de cometas.
O diagrama abaixo mostra a trajetória e a posição atual do 3I/ATLAS, baseadas nos dados disponíveis até 2 de julho. O objeto se aproxima rapidamente, a uma velocidade de mais de 60 km/s e atingirá sua menor distância ao Sol em 29 de outubro, numa posição entre as órbitas de Marte e da Terra.
O cometa interestelar C/2025 N1 (ATLAS), ou 3I/ATLAS, recebeu suas designações definitivas do Minor Planet Center da União Astronômica Internacional.
Nossa Caçada ao 3I/ATLAS
Desnecessário dizer que o entusiasmo entre toda a comunidade de observadores é grande neste momento. E não ficamos de fora dessa euforia. A meteorologia estava desfavorável na noite de 2 de julho em São José dos Campos, mas sempre há a alternativa do uso de telescópios robóticos em sítios mais favorecidos.
Através da plataforma iTelescope, acessamos um telescópio instalado no Chile para programar uma sequência de tomada de imagens da região onde as efemérides previam a passagem do 3I/ATLAS.
A uma distância de aproximadamente 5 unidades astronômicas (1 unidade astronômica equivale à distância média entre a Terra e o Sol, ou aproximadamente 150 milhões de km) e medindo algo em torno de 20 km, a tarefa é desafiadora. Além disso, estaríamos observando uma área do céu repleta de estrelas, na direção da região mais central da Via Láctea, em busca de um objeto de brilho muito tênue ( magnitude 18). É algo um pouco mais complicado que encontrar uma agulha num palheiro (se quer mesmo achar uma agulha num palheiro, fica a dica: use um ímã).
A Detecção
E lá fomos nós, operando remotamente o telescópio T75, com 250 mm de abertura instalado em Rio Hurtado, no Chile, em busca do terceiro objeto conhecido com origem fora do nosso Sistema Solar.
Programamos 5 exposições sucessivas de 180 segundos e o resultado foi um conjunto de imagens com este aspecto:
Um par de imagens capturadas através do telescópio T75, instalado no Chile, da área em torno da posição do objeto interestelar 3I/ATLAS. Créditos: Wandeclayt M./@ceuprofundo.
No meio desse palheiro, e sem um ímã, a melhor maneira de encontrar nossa agulha é criar uma animação entre os frames, na esperança de detectar um ponto se deslocando no campo.
Com um deslocamento no céu de aproximadamente 1,3″ por minuto, seria possível, no intervalo entre as exposições, detectar o cometa como um ponto móvel.
E lá estava ele! O tímido 3I/ATLAS passeando em frente as estrelas da região central da Via Láctea.
Detecção do objeto interplanetário 3I/ATLAS em imagens capturadas com telescópio robótico remoto. Créditos: Wandeclayt M./@ceuprofundo.
Como Observar?
Com magnitude em torno de 18, esse é um alvo proibitivo para a observação visual em telescópios mais modestos, mas é possível capturá-lo com câmeras CCD.
Se você também quer se aventurar imageando este célebre visitante, o primeiro passo é encontrar sua posição no céu.
As coordenadas do objeto podem ser acessadas através do sistema JPL Horizons. Além das coordenadas celestes (Ascenção Reta e Declinação) o sistema informa parâmetros como distância, taxa de deslocamento (em segundos de arco por minuto) e magnitude estimada. Durante a primeira metade do mês de julho, transitando pelas constelações de Sagitário e Ofiúco, há uma dificuldade a mais, proporcionada pelo excesso de estrelas de nossa galáxia visível nessa região do céu. A maioria, mais brilhantes que o próprio cometa.
Mas não se intimide! Saia à caça desse visitante antes que ele acelere em seu passeio pelo Sistema Solar e nos deixe para nunca mais voltar!
Com um intervalo de menos de um mês, duas estrelas do hemisfério sul celeste resolveram dar um show pirotécnico ao alcance de pequenos telescópios e binóculos! Faltou só mais uma erupção para o time das variáveis cataclísmicas poder pedir música no Fantástico.
Variáveis Cataclísmicas
As erupções detectadas foram do tipo nova, nas constelações do Lobo e da Vela e ambas estão ao alcance de pequenos telescópios e binóculos e são facilmente fotografáveis com câmeras DSLR.
As novas fazem parte de uma classe de estrelas variáveis conhecidas como cataclísmicas.
Pra saber mais sobre o que gera essas erupções das novas, conversamos com um especialista em variáveis cataclísmicas, o astrofísico Alexandre Oliveira, pesquisador e professor no Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento na UNIVAP, que nos contou:
“Uma nova ocorre em sistemas binários compostos por uma estrela compacta, uma anã branca, e uma companheira, que é uma estrela comum. E elas estão tão próximas entre si que há transferência de massa da companheira para a anã branca. Quando essa massa que vai se acumulando na anã branca atinge certas condições de temperatura e pressão, ela é lançada para o espaço na forma de uma erupção, que aumenta drasticamente o brilho do sistema.“
V462 Lup
A primeira erupção foi detectada na constelação de Lobo (Lupus), no dia 12 de junho, pela rede de telescópios All Sky Automated Survey for SuperNovae (ASAS-SN) enquanto seu brilho ainda crescia (mag g=8,7). O objeto foi anunciado como uma nova galáctica clássica no Astronomer’s Telegram ATel #17228.
A nova, que também tem as designações V462 Lupi e Nova Lupi 2025, atingiu um brilho no limite da visibilidade a olho nu em locais menos afetados pela poluição luminosa, mas idealmente utilize binóculos e pequenos telescópios para encontrá-la em meio ao rico campo galáctico na constelação do Lobo.
O diagrama abaixo mostra um campo com 2° de largura (o equivalente a 4 Luas Cheias), com o norte para cima e o leste à esquerda, coincidindo com a orientação do campo de binóculos.
A Nova Lupi 2025 ao telescópio.
Ao telescópio, a Nova Lupi 2025 é um alvo fácil. A imagem abaixo foi capturada com um telescópio inteligente Seestar S50, na noite de 26 de junho. A Nova é o objeto mais brilhante no campo de aproximadamente 1° de largura.
Uma erupção é pouco.
Mas uma erupção de nova não foi suficiente e teve dobradinha no mês de junho! A nova brilhante V572 Velorum foi descoberta simultaneamente por dois observadores na Austrália, utilizando câmeras do tipo DSLR no dia 25 de junho, com magnitude visual estimada pelos descobridores entre 5,6 e 5,7. No dia 26 de junho, K. Youshimoto, no japão reportou magnitude 4,9 em observações com CCD, bem dentro do limite de visibilidade a olho nu! [ ATel #17254].
Abaixo vemos a posição da V572 Vel num chart da AAVSO e em seguida em uma simulação do Stellarium.
Posição da Nova V572 Vel em campo gerado no software Stellarium.
A Nova V572 Vel ao telescópio.
A imagem abaixo foi capturada através de um telescópio Seestar S50. A Nova V572 Vel é o objeto mais brilhante no campo.
Nova V572 Vel, capturada através de telescópio Seestar S50 no Observatório da UNIVAP.Nova V572 Vel. Versão da imagem com indicação de escala e orientação, com coordenadas sobrepostas.
O mês traz um rara conjunção entre planetas gigantes, observável em binóculos e pequenos telescópios. Para os amantes dos objetos de céu profundo, a região do centro da Via Láctea permanece visível durante toda a noite, exibindo as coloridas joias que ornam o céu de inverno!
Data e Hora | Evento
2025/07/02 19h | Quarto Crescente
2025/07/02 22h | X e V Lunar visíveis
2025/07/03 21h | Spica 0.7°N da Lua
2025/07/03 23h | Terra no afélio
2025/07/04 02h | Mercúrio em maior elongação a leste (26°)
2025/07/04 12h | Vênus 2.4°S de Urano
2025/07/05 02h | Lua no apogeu
2025/07/05 14h | Netuno estacionário
2025/07/07 18h | Antares 0.4°N da Lua
2025/07/09 05h | Lua mais ao sul (-28.4°)
2025/07/10 20h | Lua Cheia
2025/07/11 22h | Plutão 0.0°N da Lua
2025/07/13 18h | Vênus 3.2°N de Aldebaran
2025/07/14 08h | Saturno estacionário
2025/07/16 07h | Saturno 3.4°S da Lua
2025/07/16 08h | Netuno 2.4°S da Lua
2025/07/17 07h | Mercúrio estacionário
2025/07/18 00h | Quarto Minguante
2025/07/20 11h | Urano 5.0°S da Lua
2025/07/20 13h | Lua no perigeu
2025/07/22 09h | Lua mais ao norte (28.5°)
2025/07/23 04h | Júpiter 4.9°S da Lua
2025/07/24 04h | Pollux 2.5°N da Lua
2025/07/24 19h | Lua Nova
2025/07/25 06h | Plutão em oposição
2025/07/26 21h | Regulus 1.2°S da Lua
2025/07/28 18h | Marte 1.1°N da Lua
2025/07/31 05h | Spica 0.9°N da Lua
2025/07/31 23h | Mercúrio em conjunção inferior
Destaques do Mês
A Lua em Julho
Um desafio mensal para os observadores da Lua é o registro de duas curiosas formações, visíveis somente durante algumas horas nas proximidades do início da fase crescente.
O X e o V lunares são uma peculiar combinação de luzes e sombras produzidas pelo relevo lunar quando a luz do Sol incide sobre elas no ângulo correto. É possível observar e registrar esses marcos no relevo com pequenos telescópios, mas é preciso estar atento ao horário da observação.
Vista simulada da Lua em 2025-07-02 22h, com dados do satélite LRO. Simulação: NASA-SVS. Infográfico: Projeto Céu Profundo.
Em julho, o X e o V lunares estarão visíveis na noite de 2/7. O melhor horário para visualização é entre as 22h e a meia-noite.
Um Encontro Raro
Saturno protagoniza ao lado de Netuno um dueto raro durante todo o mês de julho. Utilizando binóculos ou um pequeno telescópio com baixo aumento, será possível observar ambos os planetas simultaneamente.
Os planetas exteriores movem-se lentamente em suas órbitas pelo Sistema Solar. Saturno completa uma volta aproximadamente a cada 30 anos. Netuno, ainda mais distante do Sol, tem um período orbital de longos 163 anos. Mas atenção, coloque na agenda!! Com esse lento movimento, o próximo alinhamento entre Saturno e Netuno ocorrerá apenas em 2061! Mas não adianta deixar pra observar em 2061. Apesar do encontro ser ainda mais cerrado, com os planetas a uma distância aparente de apenas 7 minutos de arco (isso equivale a um quarto do diâmetro aparente da Lua Cheia), ele ocorre ao amanhecer com o céu já claro.
Saturno e Netuno poderão ser observados simultaneamente pela ocular do telescópio durante todo o mês de Julho. Simulação gerado no Stellarium 25.1 por Wandeclayt Melo/@ceuprofundo.
Este o tipo de evento ideal para observação com binóculos, instrumentos que apresentam um grande e luminoso campo de visão. Ao observar com telescópio, lembre que o afastamento entre Saturno e Netuno será de aproximadamente 1°, o equivalente a duas vezes o diâmetro da Lua. Por isso, é preciso usar ampliações fracas. Use sua ocular mais longa nessa observação. O campo que simulamos aqui é de um pequeno telescópio de 80 mm de abertura e 400 mm de distância focal, com ocular de 26 mm. Abaixo, compare a aparência do campo observando a Lua e a conjunção.
Saturno e Netuno no campo da ocular durante a conjunção.A Lua crescente observada com a mesma configuração de ampliação no telescópio.
O Veloz Mensageiro
Mercúrio recebe seu nome do veloz deus romano, mensageiro dos deuses do Olimpo. E a velocidade de Mercúrio estará evidente no mês de julho. No dia 4 de julho, o pequeno planeta estará em condições ideais para observação, atingindo sua máxima elongação a leste. Neste ponto, o planeta estará em seu máximo afastamento do Sol ao anoitecer. Ainda assim, ele não é um alvo tão fácil. É preciso ter um horizonte desobstruído para observá-lo sobre o horizonte oeste após o pôr do Sol.
Mas logo após a elongação, Mercúrio volta a mergulhar em direção ao poente e voltará a se alinhar com o Sol, na configuração que chamamos de conjunção inferior (quando mercúrio se posiciona entre a Terra e o Sol) no dia 31.
Destaques Telescópicos
Se a meteorologia ajudar, seu telescópio também pode não tirar férias em julho. E tem objeto pra todo gosto e todo tamanho de telescópio.
O mapa abaixo mostra a região das constelações do Escorpião e de Sagitário. Esse é um verdadeiro parque de diversões para pequenos telescópios e binóculos. Vamos levar você agora por um pequeno tour por 6 objetos do catálogo Messier, passando por aglomerados estelares abertos, aglomerados globulares e nebulosas!
Região central da Via Láctea, rica em objetos de céu profundo, na direção das constelações de Sagitário e Escorpião. Créditos: Stellarium/Wandeclayt M.
Aglomerados Abertos
A primeira dica é um par de aglomerados estelares abertos, facilmente localizáveis, na direção da cauda da constelação do escorpião. Os objetos M6 e M7, também conhecidos por seus apelidos Aglomerado da Borboleta e Aglomerado de Ptolomeu são um baú do tesouro de estrelas coloridas. As imagens abaixo foram capturadas com um telescópio inteligente Seestar S50 e são muito similares ao que se pode ver através da ocular de um pequeno telescópio:
Aglomerado Aberto M6Aglomerado Aberto M7
Aglomerados Globulares
Aglomerados abertos são compostos por estrelas jovens, somando de algumas dezenas até poucas centenas de estrelas. Mas há aglomerados muito mais ricos: os aglomerados globulares! Esses são verdadeiros fósseis de uma época em que a matéria prima para formar estrelas era muito mais abundante em nossa galáxia. Aglomerados globulares podem chegar a agregar mais de um milhão de estrelas, todas ligadas gravitacionalmente entre si. Na constelação do escorpião você pode encontrar facilmente os aglomerados M4 e M80. Os aglomerados globulares parecem pequenos amontoados de sal sobre um pano preto, se seu telescópio tiver abertura suficiente para resolver individualmente as estrelas. Em instrumentos menores, eles se parecem com pequenos borrões desfocados.
Nebulosas
E por fim, vem o desafio maior! As nebulosas na direção de Escorpião e Sagitário são belíssimas, mas também são as mais vulneráveis ao terror da poluição luminosa. Observadores em centros urbanos terão dificuldade para resolver essas pequenas manchinhas na ocular dos seus telescópios em meio ao excesso de luz lançado ao céu. Outro lembrete é que mesmo em condições ideais, esses objetos não emitem luz suficiente para que possamos perceber cor ao observá-los. É sempre possível fazer imagens que registrem suas nuances de cor, mas com o olho na ocular, não passarão de nuvenzinhas acinzentadas difusas (mas ainda assim fascinantes).
Mapa do Mês
Clique no mapa para expandir. O mapa traz uma projeção retangular do céu, com o equador celeste posicionado horizontalmente no centro do gráfico. Imagine o céu como um cilindro envolvendo a Terra. O mapa apresenta esse cilindro “desenrolado”.
Os planetas e o Sol estão representados como setas, indicando seu movimento ao longo do mês em relação às estrelas ao fundo.
Esqueça os alarmistas (e falsos) anúncios de raríssimos alinhamentos dos planetas que congestionam as redes sociais e fique de olho no que realmente está embelezando os céus em junho!
Este post complementa nosso calendário mensal de eventos astronômicos e traz dicas para observação dos planetas e da Lua na segunda metade de junho de 2025.
Mercúrio
O planeta Mercúrio pode ser considerado uma visão rara, afinal ele se afasta muito pouco do Sol e precisa de céus limpos e visão desobstruída do horizonte a oeste para que possa ser observado, condições que poucas cidades oferecem. Mas para quem tem o privilégio de ter um horizonte visível no pôr do Sol da segunda quinzena de junho, Mercúrio estará ornando o entardecer. E nós já fizemos nossa captura no fim da tarde do dia 16 de junho enquanto o planeta compunha a cena com as estrelas castor e Póllux na constelação de Gêmeos:
Mercúrio visível ao entardecer em são José dos Campos. Imagem: Wandeclayt M./@ceuprofundo
Marte
Entre os dias 16 e 18 de junho, Marte visita a estrela Regulus, a mais brilhante na constelação de Leão. Fique de olho na primeira metade da noite enquanto o planeta vermelho chama a atenção pela proximidade com Regulus.
A imagem abaixo foi capturada na noite de 16 de junho em São José dos Campos e mostra Marte próximo do coração do Leão.
Marte na constelação do Leão e em conjunção com Regulu, fotografado em são José dos Campos. Imagem: Wandeclayt M./@ceuprofundo
A Lua
Ao se encaminhar para a fase minguante, a Lua permanece visível no céu durante as manhãs. Lembre de procurar nosso satélite no céu matutino para começar o dia com uma inspiradora visão. Um bom café a visão da Lua são nossa receita para começar bem o dia.
Lua matutina com 75% de sua face visível iluminada, fotografada na manhã de 16 de junho de 2025 em São José dos Campos. Imagem: Wandeclayt M./@ceuprofundo
Júpiter
Júpiter se aproxima da conjunção com o Sol, o ponto em que o Planeta Gigante passará por trás do Sol. A proximidade aparente de Júpiter com o Sol nos dias que antecedem e sucedem a conjunção nos impedem de observá-lo, mas um telescópio especial consegue acompanhá-lo nesse período: o SOHO (Solar and Heliospheric Observatory) é um telescópio espacial das agências NASA e ESA dedicado a observação solar.
Um de seus instrumentos, o LASCO (Large Angle and Spectrometric COronograph), produz um ‘eclipse artificial‘ ocultando o disco solar e permitindo a observação da região conhecida como coroa solar e de objetos transitando no campo.
Foi nas imagens do Lasco, acessadas pela plataforma Helioviewer, que buscamos Júpiter na manhã do dia 17 de junho para trazê-lo aqui:
A imagem acima é uma composição das imagens de dois telescópios. Em azul vemos o campo do coronógrafo LASCO, do telescópio SOHO. Em vermelho vemos o Sol em ultravioleta, observado pelo telescópio SDO.
Chega o inverno no hemisfério sul e, com ele, um espetáculo celeste a olho nu que permanece visível durante toda a noite!
Em locais escuros, afastados da poluição luminosa das zonas urbanas, é possível contemplar uma faixa clara que corta o céu de horizonte a horizonte: o plano de nossa galáxia, a Via Láctea. O caminho leitoso cujo nome se origina na mitologia clássica, onde conta-se que o leite de Hera, esposa de Zeus, espalhou-se pelo céu quando ela afastou o recém nascido Hércules, um dos muitos filhos de Zeus fora do casamento, que alimentava-se em seu peito.
A Via Láctea adorna o telescópio Perkin Elmer de 1,60 m no Observatório do Pico dos Dias, em Brazópolis – MG. Este é o maior telescópio em solo Brasileiro e é mantido e administrado pelo Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA). Imagem: Wandeclayt M./@ceuprofundo
O plano da Via Láctea, além de ornar o céu para a observação a olho nu, traz também uma grande concentração de objetos de céu profundo brilhantes, como aglomerados estelares e nebulosas. Particularmente, na direção do centro de nossa galáxia, na região das constelações de Escorpião e Sagitário, é possível se deleitar por noites a fio explorando a riqueza dos campos telescópicos. Experimente observar com binóculos ou com aumentos fracos em telescópios, proporcionando um campo mais largo que permita observar os objetos completamente dentro do campo.
Explorando o Centro Galáctico
As constelações de Escorpião e Sagitário são um verdadeiro baú do tesouro. Mas por sorte essas joias não estão escondidas e qualquer pequeno telescópio pode revelar o brilho dessas gemas do céu austral!
A área em verde na carta celeste acima delimita a constelação do Escorpião. Uma área rica em estrelas brilhantes e objetos de céu profundo, como os aglomerados abertos M6 e M7 e os aglomerados globulares M4 e M80. Objetos ao alcance de binóculos e pequenos telescópios. Carta gerado no software Cartes du Ciel/Sky
Visível a olho nu como uma pequena mancha esfumaçada próximo ao rabo do Escorpião (veja mapa acima) o aglomerado M6 surpreende ao ser observado na ocular do telescópio! Dezenas de estrelas, variando em coloração, desenham uma borboleta! Exercite sua imaginação tentando desenhar a borboleta nesta imagem capturada com um pequeno telescópio de 50mm de abertura.
Depois de ter passado pelo teste de imaginação com o Aglomerado da Borboleta, o desafio é encontrar na ocular uma região esfumaçada e concentrada, que olhos mais acostumados logo identificarão como um aglomerado globular: M4.
Acompanhe as próximas postagens aqui no blog para um guia com mais objetos de céu profundo do céu de inverno!
O Inverno Está Chegando
Na noite do dia 20 de junho, às 23:42, o Sol atinge o ponto mais ao norte em sua trajetória aparente, dando início ao inverno no hemisfério sul (e ao verão no hemisfério norte).
Com noites mais longas para os observadores ao sul da linha do equador e com o centro da Via Láctea passando alto no céu, essa é a estação preferida dos astrofotógrafos de grande campo que costumam compor suas imagens com nossa galáxia sobre a paisagem.
Data e Hora | Evento
2025/06/01 02h | Vênus em maior elongação a oeste (46°)
2025/06/01 07h | Marte 1.3°S da Lua
2025/06/02 00h | Regulus 1.6°S da Lua
2025/06/03 00h | Quarto Crescente
2025/06/06 11h | Spica 0.5°N da Lua (Ocultação*)
2025/06/07 08h | Lua no apogeu
2025/06/08 17h | Mercúrio 1.9°N de Júpiter
2025/06/10 08h | Antares 0.3°N da Lua (Ocultação**)
2025/06/11 04h | Lua Cheia
2025/06/11 20h | Lua mais ao sul (-28.4°)
2025/06/14 14h | Plutão 0.1°N da Lua (Ocultação***)
2025/06/17 13h | Marte 0.7°N de Regulus
2025/06/18 16h | Quarto Minguante
2025/06/18 22h | Saturno 3.0°S da Lua
2025/06/18 23h | Netuno 2.2°S da Lua
2025/06/20 23h | Solstício
2025/06/22 03h | Mercúrio 5.0°S de Pollux
2025/06/22 22h | Urano 4.8°S da Lua
2025/06/23 01h | Lua no perigeu
2025/06/24 12h | Júpiter em conjunção
2025/06/24 22h | Lua mais ao norte (28.4°)
2025/06/25 06h | Júpiter 5.0°S da Lua
2025/06/25 07h | Lua Nova
2025/06/26 16h | Pollux 2.4°N da Lua
2025/06/27 04h | Mercúrio 2.8°S da Lua
2025/06/29 09h | Regulus 1.3°S da Lua
2025/06/29 22h | Marte 0.2°S da Lua (Ocultação****)
* Visível em parte da África continental e Madagascar.
** Visível na Oceania e Ilha de Páscoa.
*** Visível em parte da Austrália.
**** Visível na costa noroeste da América do Sul.
Os Planetas em Junho/2025
Marte é o único planeta visível no início da noite durante o mês de junho. Júpiter inicia o mês baixo no horizonte e no dia 24 passa pela conjunção com o Sol, deixando o céu noturno pelos próximos meses, unindo-se a Vênus, Saturno, Urano e Netuno que já se agrupam no céu durante a madrugada.
Os planetas e o Sol em junho/2025. Carta gerada em Python 3.9 com os pacotes astropy, astroquery e matplotlib. [Wandeclayt M./Céu Profundo]
Os planetas e o Sol em junho/2025. Carta gerada em Python 3.9 com os pacotes astropy, astroquery e matplotlib. [Wandeclayt M./Céu Profundo]
Os planetas e o Sol em junho/2025. Carta gerada em Python 3.9 com os pacotes astropy, astroquery e matplotlib. [Wandeclayt M./Céu Profundo]
Configurações do Sistema Solar em Junho/2025
Os diagramas abaixo mostram a configuração dos planetas interiores e exteriores do Sistema Solar ao longo do mês de março, em coordenadas heliocêntricas. Os gráficos apresentam o Sistema Solar visto do norte do plano da órbita terrestre.
Saturno deixa o céu noturno, e após a conjunção no dia 12 de março, passa a ser vsível nas madrugadas, pouco antes do nascer do Sol. Mas durante todo o mês de março, seja antes ou depois da conjunção, a verdade é que o planeta dos anéis será um alvo muito difícil de se detectar, devido à sua proximidade com o Sol, que o deixa mergulhado na luz do crepúsculo.
Vênus, Mercúrio e Netuno também encerrarão o mês a oeste do Sol,
Data e Hora | Evento
2025/03/01 01h | Mercúrio 0.4°N da Lua (Ocultação)*
2025/03/01 05h | Netuno 1.4°S da Lua
2025/03/01 18h | Lua no perigeu
2025/03/02 00h | Vênus 5.7°N da Lua
2025/03/02 14h | Mercúrio 1.9°N de Netuno
2025/03/04 22h | Urano 4.6°S da Lua
2025/03/06 07h | Júpiter 5.5°S da Lua
2025/03/06 13h | Quarto Crescente
2025/03/07 12h | Lua mais ao norte (28.7)
2025/03/08 01h | Mercúrio em maior elongação a leste (18)
2025/03/08 21h | Marte 1.6°S da Lua
2025/03/09 08h | Pollux 2.0°N da Lua
2025/03/12 01h | Mercúrio 5.6°S de Vênus
2025/03/12 05h | Regulus 2.0°S da Lua
2025/03/12 07h | Saturno em conjunção
2025/03/14 03h | Lua Cheia (Eclipse)
2025/03/14 18h | Mercúrio estacionário
2025/03/16 16h | Spica 0.3°N da Lua (Ocultação)*
2025/03/17 13h | Lua no apogeu
2025/03/19 20h | Netuno em conjunção
2025/03/20 06h | Equinócio
2025/03/20 13h | Antares 0.5°N da Lua (Ocultação)*
2025/03/22 03h | Lua mais ao sul (-28.7)
2025/03/22 08h | Quarto Minguante
2025/03/22 22h | Vênus em conjunção inferior
2025/03/23 01h | Vênus em maior elongação a oeste (9)
2025/03/24 16h | Mercúrio em conjunção inferior
2025/03/24 18h | Plutão 0.8°N da Lua (Ocultação)*
2025/03/28 08h | Saturno 1.7°S da Lua
2025/03/28 17h | Netuno 1.5°S da Lua
2025/03/28 19h | Mercúrio 2.0°N da Lua
2025/03/29 07h | Lua Nova (Eclipse)
2025/03/30 00h | Mercúrio 3.4°N de Netuno
2025/03/30 02h | Lua no perigeu
2025/03/31 17h | Marte 4.0°S de Pollux
* Ocultação não visível do Brasil.
Elipse Total da Lua (Noite de 13 para 14/3)
Um eclipse total da Lua, visível de todo o Brasil é o ponto alto na agenda do mês! Atente-se para os horários de cada fase do eclipse, na madrugada de 13 para 14 de março.
Entendendo as Fases do Eclipse
O diagrama abaixo mostra cada etapa do eclipse. A região circular no centro corresponde à sombra projetada pela Terra. Nas bordas dessa região, a sombra é mais clara e difusa e recebe o nome de penumbra. Quando a lua entre nesse setor, dizemos que teve início a fase penumbral do eclipse. A queda no brilho da Lua é sutil nessa fase. A região mais escura da sombra é a umbra. É nessa fase que vemos uma sombra com contornos mais definidos projetada sobre a Lua. O eclipse é total quando a Lua está completamente imersa na umbra.
Na fase total percebemos a Lua assumir um tom avermelhado, como um efeito da refração dos raios do Sol na nossa atmosfera. Ao atravessar a atmosfera da Terra a porção mais vermelha da luz visível sofre um desvio maior que as outras cores de luz, e acaba atingindo a região sombreada.
A fase penumbral tem início às 0:57h e o máximo do eclipse ocorrerá às 3:58h da madrugada do dia 14. O máximo é o instante central do eclipse, quando a Lua está mais próxima do centro da umbra.
Diagrama de fases do eclipse gerado no software Occult v4. Créditos: Wandeclayt M./@ceuprofundo
E C L I P S E L U N A R em 2025/03/14
Evento UTC-3
h m s
[1] A Lua Entra na Penumbra 0 57 11
[2] A Lua Entra na Umbra 2 09 24
[3] Início do Eclipse Total 3 25 59
[4] Máximo do Eclipse 3 58 46
[5] Fim do Eclipse Total 4 32 2
[6] A Lua Sai da Umbra 5 48 19
[7] A Lua Sai da Penumbra 7 00 31
Magnitude do Eclipse Umbral = 1.180
O Céu em Março – Destaques do Mês.
No último mês do verão, a constelação de Órion, o caçador, ainda cruza imponente o céu escoltada por seus cães. Órion é uma das constelações mais facilmente reconhecíveis no céu, sobretudo pelas populares Três Marias, que formam o cinturão da figura representada na constelação clássica.
As constelações de Órion, Touro, Gêmeos e Cão Maior no atlas Uranographia (1801) de Johann Elert Bode (1747-1826) . Créditos: ETH-Bibliothek Zürich.
As constelações de Órion, Touro, Gêmeos e Cão Maior no atlas Uranographia (1801) de Johann Elert Bode (1747-1826) . Créditos: ETH-Bibliothek Zürich.
As constelações de Órion, Touro, Gêmeos e Cão Maior no atlas Uranographia (1801) de Johann Elert Bode (1747-1826) . Créditos: ETH-Bibliothek Zürich.
Órion é também o lar de um dos mais brilhantes objetos de céu profundo: A Grande Nebulosa de Órion (M42). Sucesso absoluto entre observadores amadores, a Nebulosa de Órion é um vasto berçário estelar que facilmente revela suas cores, mesmo em imagens sem exaustivas técnicas de processamento. Na imagem abaixo, um frame único com 15 segundos de exposição – sem empilhamento, capturado com câmera DSLR através de um telescópio refrator apocromático de 122 mm de abertura, é possível ver os tons avermelhados emitidos pelo hidrogênio em contraste com os tons azulados refletindo a luz das jovens estrelas que surgiram da nuvem.
No entanto, em observações visuais, embora seja possível perceber detalhes finos na estrutura da nebulosa, não há luz suficiente para que as cores sejam percebidas.
Grande Nebulosa de Órion (M42). Frame único, com 15 segundos de tempo de exposição, registrado com telescópio refrator apocromático de 122 mm. Créditos: Wandeclayt M./@ceuprofundo
A dica é aproveitar o mês de março, enquanto Órion ainda é visível durante toda a primeira metade da noite para localizar e observar esta magnífica nebulosa. use os recursos que estoverem disponíveis: olho nu, câmeras, celulares, binóculos, telescópios ou mesmo observatórios remotos!
A constelação de Órion se pondo no horizonte de São José dos Campos (SP). A nebulosa M42 pode ser vista a olho nu ao sul das Três Marias. Créditos: Wandeclayt M. / @ceuprofundo.
Os Planetas em Março/2025
Após um período de fartura, com Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno no céu noturno nos meses de janeiro e fevereiro, entraremos na escassez de alvos planetários no início das noites. Saturno, Vênus e Netuno mergulharão em direção ao horizonte cada vez mais cedo e despontarão no horizonte leste nas madrugadas, pouco antes do nascer do Sol.
no fim de março, ficaremos apenas com Júpiter e Marte ainda como atrações brilhantes nas primeiras horas da noite.
Para acompanhar a movimentação de todos os planetas durante o mês, clique na imagem para ampliar.
Os planetas e o Sol em março/2025. Carta gerada em Python 3.9 com os pacotes astropy, astroquery e matplotlib. [Wandeclayt M./Céu Profundo]
Os planetas e o Sol em março/2025. Carta gerada em Python 3.9 com os pacotes astropy, astroquery e matplotlib. [Wandeclayt M./Céu Profundo]
Os planetas e o Sol em março/2025. Carta gerada em Python 3.9 com os pacotes astropy, astroquery e matplotlib. [Wandeclayt M./Céu Profundo]
Configurações do Sistema Solar em Março/2025
Os diagramas abaixo mostram a configuração dos planetas interiores e exteriores do Sistema Solar ao longo do mês de março, em coordenadas heliocêntricas. Os gráficos apresentam o Sistema Solar visto do norte do plano da órbita terrestre.
Data e Hora | Evento
2025/02/01 01h | Saturno 1.0°S da Lua (Ocultação)*
2025/02/01 13h | Vênus 3.3°N de Netuno
2025/02/01 18h | Netuno 1.2°S da Lua (Ocultação)*
2025/02/01 19h | Vênus 2.1°N da Lua
2025/02/02 00h | Lua no perigeu
2025/02/04 10h | Júpiter estacionário
2025/02/05 05h | QUARTO CRESCENTE
2025/02/05 16h | Urano 4.5°S da Lua
2025/02/06 23h | Júpiter 5.4°S da Lua
2025/02/08 07h | Lua no ponto mais ao Norte (28.6°)
2025/02/09 08h | Mercúrio em conjunção superior
2025/02/09 16h | Marte 0.7°S da Lua (Ocultação)*
2025/02/10 02h | Pólux 2.0°N da Lua
2025/02/12 10h | LUA CHEIA
2025/02/12 22h | Régulo 1.9°S da Lua
2025/02/17 09h | Espica 0.3°N da Lua (Ocultação)
2025/02/17 22h | Lua no apogeu
2025/02/20 14h | QUARTO MINGUANTE
2025/02/21 05h | Antares 0.4°N da Lua (Ocultação)
2025/02/22 19h | Lua no ponto mais ao Sul (-28.7°)
2025/02/24 06h | Marte estacionário
2025/02/25 07h | Plutão 0.9°N da Lua (Ocultação)
2025/02/25 09h | Mercúrio 1.5°N de Saturno
2025/02/27 21h | LUA NOVA
2025/02/28 00h | Vênus estacionário
2025/02/28 15h | Saturno 1.3°S da Lua
* Ocultação não visível do Brasil.
** Visível de parte do Brasil. Consulte mapa abaixo.
O Céu em Fevereiro – Destaques do Mês.
Janeiro se encerra com a Lua compondo o fim da tarde ao lado de Saturno e Vênus. Olhe para o horizonte oeste a´pos o pôr do Sol para contemplar o trio. Simulação no aplicativo Stellarium. Créditos: Wandeclayt M./@ceuprofundo
Após a intensa circulação de vídeos anunciando um falso alinhamento dos planetas no dia 25/1, disseminados pelas redes sociais e nos fazendo gastar bastante energia para desmentir esse boato, é hora de falarmos de alinhamentos que REALMENTE acontecerão!
Mas antes vamos chamar a sua atenção para o fato de que alinhamentos entra a Lua e os planetas NÃO SÃO RAROS. Claro, são belíssimos e merecem nossos olhares, mas acontecem a cada mês a medida que a Lua percorre sua órbita em torno da Terra.
E para começar a série de conjunções lunares, comecemos olhando para o oeste, ao anoitecer do dia 31/1 para testemunhar a Lua enfileirada com Saturno e Vênus. Mas não se preocupe se as nuvens frustrarem sua observação. Nas duas noites seguintes, teremos também belas configurações a oeste, como vemos nas imagens abaixo.
No primeiro anoitecer de fevereiro, A Lua e Vênus aparecem emparelhadas no horizonte oeste. Saturno, um pouco mais baixo, completa a composição.A Lua se despede de Saturno e Vênus no anoitecer de 2 de fevereiro. Esta bela composição poderá ser vista no início da noite, no horizonte oeste, em todo o Brasil.
Mas as belas conjunções não param por aí. Nos dias 5, 6 e 9/2, respectivamente, a Lua faz belas aparições nas constelações de Touro e Gêmeos, encontrando-se com as Plêiades, com Júpiter e, por último, com o planeta Marte.
Lua em conjunção com o aglomerado das Plêiades no anoitecer de 5 de fevereiro.Lua em conjunção com Júpiter no anoitecer de 6 de fevereiro.Lua em conjunção com Marte no anoitecer de 5 de fevereiro.
Os Planetas em Fevereiro/2025
Marte, Júpiter, Vênus e Saturno estarão em condições muito favoráveis para a observação durante todo o mês de Janeiro. Para observadores munidos de telescópios, Urano e Netuno também manterão um bom afastamento do Sol durante todo o mês. Vênus, Saturno, Júpiter e Marte poderão ser vistos simultaneamente no céu. Isso não é uma configuração especialmente rara e nem de longe corresponde ao super alinhamento alardeado em vídeos virais em redes sociais. Na verdade, os planetas estarão bem separados angularmente entre si, com apenas uma conjunção mútua merecendo atenção: Vênus estará a pouco mais de 2º Saturno no dia 18/01.
Para acompanhar a movimentação de todos os planetas durante o mês, clique na imagem para ampliar.
Os planetas e o Sol em fevereiro/2025. Carta gerada em Python 3.9 com os pacotes astropy, astroquery e matplotlib. [Wandeclayt M./Céu Profundo]
Os planetas e o Sol em fevereiro/2025. Carta gerada em Python 3.9 com os pacotes astropy, astroquery e matplotlib. [Wandeclayt M./Céu Profundo]
Os planetas e o Sol em fevereiro/2025. Carta gerada em Python 3.9 com os pacotes astropy, astroquery e matplotlib. [Wandeclayt M./Céu Profundo]
Configurações do Sistema Solar em Fevereiro/2025
Os diagramas abaixo mostram a configuração dos planetas interiores e exteriores do Sistema Solar ao longo do mês de fevereiro, em coordenadas heliocêntricas. Os gráficos apresentam o Sistema Solar visto do norte do plano da órbita terrestre.
A temporada de cometas de 2025 começou cedo! O cometa C/2024 G3 (ATLAS) fez uma espetacular passagem pelo campo de visão do telescópio solar espacial SOHO entre os dias 12 e 14 de janeiro, exibindo uma magnífica cauda e nos deixando com água na boca para fazer imagens também a partir do solo.
Vídeo do Cometa C/2024 G3 (ATLAS) gerado a partir de imagens do telescópio solas espacial SOHO (NASA/ESA)
A imagem abaixo, com cores falsas, gerada a partir dos dados da câmera LASCO C3 a bordo do telescópio espacial SOHO mostra a cauda do C/2024 G3 (ATLAS) curvando-se enquanto o cometa contorna o Sol durante sua passagem pelo periélio.
Frustrando as expectativas de observadores na maior parte do Brasil, nuvens turvaram por vários dias após a passagem do cometa pelo periélio. Em São José dos Campos, apenas nesta segunda (20/1) tivemos o horizonte oeste suficientemente desobstruído para podermos imagear um dos cometas mais brilhantes do século.
Na imagem abaixo, capturada através de objetiva de 85 mm de distância focal e relação focal f/1.5, temos uma visão muito próxima do que observamos a olho nu. Sem dificuldade pudemos identificar o cometa e resolver sua cauda aproximadamente meia hora após o pôr do Sol.
Cometa C/2024 G3 (ATLAS) fotografado em São José dos Campos (SP) com objetiva de 85mm. Esta é a imagem mais próxima visão a olho nu do cometa na segunda 20/1. Créditos: Wandeclayt M./@ceuprofundo
A fotografia com teleobjetivas revela ainda mais detalhes da estrutura da cauda do cometa. A imagem abaixo, capturada através de teleobjetiva fixa de 300 mm f/2.8, num frame único, mostra a complexidade da cauda. Detalhes ainda mais sutis podem ser resolvidos através do empilhamento de múltiplos frames, quando as condições da atmosfera permitem uma sequência maior de imagens. Em nosso caso, tivemos apenas uma breve janela entre as nuvens que concentravam na direção do horizonte oeste.
Cometa C/2024 G3 (ATLAS) fotografado em São José dos Campos (SP) com objetiva de 300mm. Créditos: Wandeclayt M./@ceuprofundo
Por último, nos surpreendemos com a faixa de poeira visível através do telescópio. Em um frame único, com um leve processamento para aumento do contraste, capturado através de telescópio Schmidt Cassegrain de 203 mm f/10, pudemos capturar a imagem abaixo. A região do núcleo do cometa não é visível e pode estar oculta pela poeira.
Cometa C/2024 G3 (ATLAS) fotografado em São José dos Campos (SP) com câmera DSLR através de telescópio Schmidt Cassegrain Celestron Nexstar SE8. Créditos: Wandeclayt M./@ceuprofundo
Como encontrar o cometa?
Embora as imagens impressionem, a experiência realmente memorável é poder ver um cometa tão brilhante a olho nu. Se a meteorologia for favorável em sua localização, não perca a oportunidade de observar o C/2024 G3 (ATLAS). Para encontrá-lo, olhe na direção do poente aproximadamente meia hora após o pôr do Sol. Se tiver dificuldade para detectá-lo, tente usar a técnica da visão periférica: não olhe diretamente para a direção do cometa. Em vez disso, use o canto do olho para tentar perceber um borrão alongado no céu.
O mapa abaixo foi confeccionado para a latitude de São José dos Campos, mas pode ser utilizado em outras localidades, usando Vênus e a estrela Formalhaut como referência.
Mas se é imagem que você quer, não é só com telescópios e câmeras DSLR que podemos capturar detalhes do cometa. A imagem abaixo, registrada por nosso colaborador Matheus Queiroz no Distrito Federal é um exemplo do que podemos obter com um celular e binóculos (Adicione além dos instrumentos experiência, dedicação e paixão pela astronomia e certamente você vai acabar conseguindo resultados como esse).
Cometa C/2024 G3 (ATLAS) registrado com celular através de binóculos astronômicos. Créditos: Matheus Queiroz.
O C/2024 G3 é uma bela surpresa já no primeiro mês de 2025. Mas o ano está apenas começando e esperamos que vocês sigam nos acompanhando e compartilhando o céu que tanto nos fascina. Torcemos para que outros cometas brilhantes possam os surpreender e se juntar aos eventos previstos e que publicamos a cada mês em nosso calendário astrônomico. Mas mesmo que mais nenhum cometa salte aos nossos olhos, já tivemos um espetáculo inesquecível para iniciar o ano!
Cometa c/2024 G3 (ATLAS) registrado pela câmera LASCO C3 do telescópio solar espacial SOHO (NASA/ESA) em 11 de janeiro de 2025, dois dias antes da passagem do cometa pelo periélio. A região escura na imagem é um anteparo que oculta o Sol, gerando um eclipse artificial para as imagens do SOHO. O Sol está na região central da imagem. [Imagem processada por Wandeclayt M. a partir de dados brutos da câmera LASCO C3]
Descoberto em abril de 2024 e com sua órbita quase que inteiramente ao sul da eclíptica, o cometa C/2024 G3 (ATLAS) é o presente que os observadores no hemisfério sul esperavam!
Além do espetáculo proporcionado pelos planetas durante o mês de janeiro, um cometa brilhante é sempre motivo para euforia na astronomia amadora e desta vez, se a meteorologia nos ajudar, o Brasil será um camarote privilegiado para a observação deste visitante dos confins do Sistema Solar. E este privilégio é consequência da inclinação da órbita do cometa, mantendo-o no hemisfério sul celeste após a passagem pelo periélio.
Órbita do cometa C/2024 G3 gerado no visualizador Orbit Viewer da plataforma JPL Horizons.
Curva de Brilho
Durante a última semana de dezembro e primeira semana de janeiro, o C/2024 G3 (ATLAS) foi um alvo difícil ao amanhecer em meio a persistentes nuvens em muitas regiões do Brasil. Mas observadores ao redor do mundo seguiram monitorando sua evolução e reportando seu promissor aumento de brilho.
Curva de brilho do cometa C/2024 G3 (ATLAS) com dados reportados à plataforma COBS [dados/gráfico: COBS]
Agora nos resta esperar que o cometa sobreviva a sua passagem pelo ponto de sua órbita mais próximo do Sol, o periélio, para que possa emergir em seguida no céu do entardecer com brilho suficiente para que possa ser visto sem esforço através de pequenos telescópios e binóculos, ou quem sabe, a olho nu.
Como encontrá-lo?
Para localizá-lo, olhe para o poente, logo após o pôr do Sol, a partir do dia 14 de janeiro, ligeiramente ao Sul do ponto em que o Sol se pôs. O mapa abaixo mostra a trajetória do cometa ao logo de todo o mês de janeiro, realçando a posição do Sol e do cometa no dia da passagem pelo periélio (13/01)
Posição do cometa C/2024 G3 (ATLAS) durante o mês de janeiro de 2025. [gráfico: Wandeclayt M./@ceuprofundo]
Estamos apenas em janeiro, mas este já é um fore candidato ao título de cometa do ano! Estaremos de olho em sua evolução e com câmeras e telescópios apontados em sua direção. Fiquem de olho aqui no blog e em nossas redes sociais para dicas de observação e notícias de última hora! O ano apenas começou, mas o céu não vai esperar o carnaval para desfilar seus astros brilhantes em frente aos telescópios.
Aparentemente falta pauta nas redações no final do ano. E falta também uma boa consultoria sobre astronomia, até para os grandes portais de notícia que sempre requentam e republicam a mesma matéria, fazendo confusão entre períodos orbitais distintos e alardeando, incorretamente, que o ano não acaba no dia 31 de dezembro. Mas isso levanta a questão: afinal, quanto dura um ano?
2024 acabou, e o primeiro anoitecer de 2025 em São José dos Campos (São Paulo) foi ornado pela Lua, Vênus e Saturno. [imagem: Wandeclayt M./@ceuprofundo]
Pra começo de conversa, o ano civil acaba sim em 31 de dezembro. O 31 de dezembro não é uma data com significado astronômico especial, mas a duração do ano obedece sim critérios astronômicos.
Uma rápida consulta nos mecanismos de busca mostram que todos os anos uma confusão sobre a duração do ano toma as manchetes dos portais de notícia.
Mas afinal qual a duração do ano.
Se queremos saber quanto dura um ano, precisamos entender um pouco do que são as órbitas planetárias.
As órbitas dos objetos do Sistema Solar são regidas pela força da gravidade. Uma força tão bem conhecida que nos permite até descobrir novos objetos apenas medindo seus efeitos.
Urano foi descoberto através de observações telescópicas por William Herschel em 1781. Mas perturbações em sua órbita revelaram que existia um outro planeta além de sua órbita. Foi assim que Netuno foi descoberto em 1846.
Trabalhando independentemente, Urbain Le Verrier na França e John Couch Adams na Inglaterra, calcularam a posição de um planeta até então desconhecido, que produziria o desvio observado na órbita de Urano.
O astrônomo John Galle, do Observatório de Berlim, encontrou o planeta que hoje conhecemos como Netuno, a apenas 1º da posição prevista por Le Verrier.
Mas décadas antes da teoria da gravitação de Newton, Johanes Kepler já havia descoberto empiricamente como os planetas se movem.
Para exemplificar, veja a órbita de Mercúrio, na imagem abaixo.
Notou que a órbita não é um círculo perfeito? Ela é levemente achatada e o Sol não fica no centro .
Esse “círculo achatado” se chama elipse e a posição do Sol é um dos “focos” dessa elipse. O ponto marcado com a letra C é o centro da elipse. E o ponto marcado como F2 é o segundo foco, onde não há nenhum objeto.
Essa geometria faz com que haja um ponto da órbita em que o planeta esteja mais próximo do Sol e um ponto em que esteja mais distante.
Esses pontos extremos possuem nomes: Periélio, quando o planeta está mais próximo do Sol. Afélio, quando está mais distante.
O Ano Anomalístico
Você pode estar pensando que essa é uma boa maneira de estabelecer quanto dura um ano. Poderíamos estabelecer que um ano é o período entre duas passagens sucessivas por um desses pontos da órbita. O periélio, por exemplo. É essa a ideia veiculada nas notícias de início de ano.
Porém, isso é algo bem difícil de perceber na prática.
É possível sim usar esse período para definir quanto dura um ano. E de fato ele é usado para definir o que chamamos de Ano Anomalístico.
Mas a órbita da Terra é muito menos achatada que a de mercúrio. E sem a ajuda de instrumentos é impossível perceber que estamos um pouco mais perto do Sol. Em 2025, o Sol passou pelo periélio no dia 4 de janeiro às 10:29h, a pouco mais de 147 milhões de km do Sol.
E você certamente não notou nada de diferente.
No dia 3 de julho, passaremos pelo ponto mais distante, o afélio, a pouco mais de 152 milhões de km. O afélio também é vítima de publicações sensacionalistas e INCORRETAS que viralizam todo ano. Mas você pode se vacinar lendo outro post aqui no blog: https://ceuprofundo.com/2022/05/21/alerta-de-boato-o-que-e-o-afelio/
Mas a verdade é que você também não vai notar a passagem pelo afélio. A diferença entre afélio e periélio é realmente muito pequena.
O Ano Sideral
Mas se a passagem do Sol pelo periélio não é uma maneira muito prática de definir quanto dura um ano, que tal usar como referência as estrelas distantes? Poderíamos medir o tempo entre dois alinhamentos sucessivos do Sol com alguma estrela fixa. Isso é algo razoavelmente fácil de determinar. E o período medido dessa forma é o que chamamos de Ano Sideral.
É sim uma boa maneira de medir o tempo. Mas talvez não tenha grandes consequências práticas. Não faz diferença se o Sol passar um pouco antes ou um pouco depois por esse alinhamento, faz?
Talvez precisemos de uma maneira de medir o ano que tenha mais impacto em nossas vidas.
O Ano Trópico
E se, em vez do periélio ou do alinhamento com alguma estrela, nossos calendários fossem sincronizados com acontecimentos astronômicos mais relevantes? Eventos que nos permitissem prever a temperatura e as chuvas. Ou que tivessem impacto em nosso planejamento para plantar, colher ou nos proteger das intempéries? Quem sabe poderíamos usar o ciclo das estações para isso? Construindo um calendário que mantém fixo o início das estações, temos controle do início da estação chuvosa, da chegada do frio ou do calor, da estiagem ou das inundações… é um calendário realmente útil e prático.
É por isso que faz todo sentido que a duração do ano civil coincida com a duração do ciclos das estações.
O Ano Trópico corresponde ao período entre dois equinócios vernais (no hemisfério sul, isso equivale ao início do outono).
Mas um ano não é um ano?
Bem… tudo seria mais fácil se a Terra fosse uma esfera perfeita. E se Lua e os outros planetas no Sistema Solar não perturbassem nossa órbita.
Mas a realidade está longe de ser uma aula de física do ensino médio, onde o professor pode propor um problema em que um elefante tem massa desprezível e desliza sem atrito sobre o asfalto…
Na prática, há efeitos que perturbam as órbitas (Júpiter, por ser o planeta mais massivo, e a Lua por estar muito perto de nós, produzem as maiores perturbações) e que fazem eixo da Terra cambalear como um pião. O resultado disso é que o ano trópico, o ano sideral e o ano anomalístico acabam tendo durações diferentes, porque esses pontos de referência se deslocam de um ano pra outro. No fim das contas, cada ano acaba tendo uma duração diferente.
A nossa escolha para a duração do ano é a que coincide com o ciclo das estações. O Ano Trópico. Então pode esquecer cada uma dessas matérias que dizem que “segundo a ciência” o ano só começa em 4 de janeiro. O ANO CIVIL NÃO É MEDIDO EM RELAÇÃO AO PERIÉLIO!
Sim, mas afinal quanto dura um ano??
Agora sim podemos falar sobre a duração de cada um desses anos.
Ano
Duração Média
Sideral
365,2564 dias
Anomalístico
365,2596 dias
Trópico
365,2422 dias
Duração média dos principais tipos de ano. [Fonte: Astronomical almanac for the year 2015 (United States Naval Observatory, United Kingdom Hydrographic Office)]
A duração média do Ano Trópico é de 365,2422 dias. Isso é um pouco menos que 365 dias e 6 horas. Mas esse pouco tem consequências… Foi isso que motivou uma mudança de calendário no ano 1582 em uma bula papal editada pelo Papa Gregório XIII.
Com o objetivo de manter a data do equinócio de março fixa, uma nova regra para adoção dos anos bissextos precisou ser estabelecida.
O calendário gregoriano.
Ao acrescentar 1 dia a cada quatro anos, correspondendo às 6 horas que excediam os 365 dias no calendário vigente (o Calendário Juliano), um erro foi acumulado deslocando a data do início da primavera do hemisfério norte (o equinócio de março).
A data do equinócio é importante no calendário do Vaticano para determinar o dia da Páscoa e o período de jejum. A Páscoa corresponde ao domingo após a primeira Lua Cheia que ocorre após o equinócio de março. E se a data do equinócio varia, todas essas datas móveis também se deslocam.
Na correção que resultou no calendário gregoriano, primeiro foram excluídos 10 dias do calendário: em 1582, nos países que adotaram imediatamente o calendário gregoriano, a quinta-feira 4 de outubro foi seguida pela sexta-feira 15 de outubro.
E uma nova regra para os anos bissextos foi estabelecida: 1 dia é acrescentado se o ano for divisível por 4, mas ele não é acrescentado se o ano for divisível por 100, exceto se também for divisível por 400.
Acabou se perdendo nas contas? A gente simplifica: os séculos cheios não são bissextos, exceto se forem múltiplos de 400. Ou seja: 1600 e 2000 foram bissextos. 1700, 1800 e 1900, não. Todos os outros múltiplos de 4 foram. 2100, 2200 e 2300 não serão bissextos. 2400 será. E assim por diante…
Essa correção garante que o calendário permanecerá sincronizado com o início das estações por mais de 3 milênios. É realmente uma correção muito boa, mas infelizmente não impede que influenciadores digitais e portais de notícia continuem dizendo que o ano não acabou em 31 de dezembro.