3I/ATLAS – Observamos o Visitante Interestelar

O cometa C/2025 N1 (ATLAS), ou I3/ATLAS, aparece circulado em meio a incontáveis estrelas.

O Minor Planet Center (MPC), da União Astronômica Internacional (IAU), emitiu em circular a confirmação do objeto A11pl3Z como um visitante interestelar, conferindo a nomenclatura definitiva 3I/ATLAS. O objeto, no entanto, exibe características cometárias, o que lhe confere um segunda designação: C/2025 N1 (ATLAS), seguindo a regra para nomenclatura de cometas.

O diagrama abaixo mostra a trajetória e a posição atual do 3I/ATLAS, baseadas nos dados disponíveis até 2 de julho. O objeto se aproxima rapidamente, a uma velocidade de mais de 60 km/s e atingirá sua menor distância ao Sol em 29 de outubro, numa posição entre as órbitas de Marte e da Terra.

O cometa interestelar C/2025 N1 (ATLAS), ou 3I/ATLAS, recebeu suas designações definitivas do Minor Planet Center da União Astronômica Internacional.

Nossa Caçada ao 3I/ATLAS

Desnecessário dizer que o entusiasmo entre toda a comunidade de observadores é grande neste momento. E não ficamos de fora dessa euforia. A meteorologia estava desfavorável na noite de 2 de julho em São José dos Campos, mas sempre há a alternativa do uso de telescópios robóticos em sítios mais favorecidos.

Através da plataforma iTelescope, acessamos um telescópio instalado no Chile para programar uma sequência de tomada de imagens da região onde as efemérides previam a passagem do 3I/ATLAS.

A uma distância de aproximadamente 5 unidades astronômicas (1 unidade astronômica equivale à distância média entre a Terra e o Sol, ou aproximadamente 150 milhões de km) e medindo algo em torno de 20 km, a tarefa é desafiadora. Além disso, estaríamos observando uma área do céu repleta de estrelas, na direção da região mais central da Via Láctea, em busca de um objeto de brilho muito tênue ( magnitude 18). É algo um pouco mais complicado que encontrar uma agulha num palheiro (se quer mesmo achar uma agulha num palheiro, fica a dica: use um ímã).

A Detecção

E lá fomos nós, operando remotamente o telescópio T75, com 250 mm de abertura instalado em Rio Hurtado, no Chile, em busca do terceiro objeto conhecido com origem fora do nosso Sistema Solar.

Programamos 5 exposições sucessivas de 180 segundos e o resultado foi um conjunto de imagens com este aspecto:

Um par de imagens capturadas através do telescópio T75, instalado no Chile, da área em torno da posição do objeto interestelar 3I/ATLAS. Créditos: Wandeclayt M./@ceuprofundo.

No meio desse palheiro, e sem um ímã, a melhor maneira de encontrar nossa agulha é criar uma animação entre os frames, na esperança de detectar um ponto se deslocando no campo.

Com um deslocamento no céu de aproximadamente 1,3″ por minuto, seria possível, no intervalo entre as exposições, detectar o cometa como um ponto móvel.

E lá estava ele! O tímido 3I/ATLAS passeando em frente as estrelas da região central da Via Láctea.

O objeto 3I/ATLAS, ou C/2025 N1 (ATLAS), aparece como um minúsculo ponto se deslocando entre duas imagens que se alternam. As imagens são escuras, repletas de pontos brilhantes, que são estrelas na direção do centro da Via Láctea.
Detecção do objeto interplanetário 3I/ATLAS em imagens capturadas com telescópio robótico remoto. Créditos: Wandeclayt M./@ceuprofundo.

Como Observar?

Com magnitude em torno de 18, esse é um alvo proibitivo para a observação visual em telescópios mais modestos, mas é possível capturá-lo com câmeras CCD.

Se você também quer se aventurar imageando este célebre visitante, o primeiro passo é encontrar sua posição no céu.

As coordenadas do objeto podem ser acessadas através do sistema JPL Horizons. Além das coordenadas celestes (Ascenção Reta e Declinação) o sistema informa parâmetros como distância, taxa de deslocamento (em segundos de arco por minuto) e magnitude estimada. Durante a primeira metade do mês de julho, transitando pelas constelações de Sagitário e Ofiúco, há uma dificuldade a mais, proporcionada pelo excesso de estrelas de nossa galáxia visível nessa região do céu. A maioria, mais brilhantes que o próprio cometa.

Mas não se intimide! Saia à caça desse visitante antes que ele acelere em seu passeio pelo Sistema Solar e nos deixe para nunca mais voltar!

A11pl3Z: Mais um Visitante Interestelar?

Pela terceira vez na história, um objeto passando pelo Sistema Solar pode ter origem em outro sistema planetário. O objeto batizado provisoriamente como A11pl3Z é o mais recente candidato ao carimbo de rocha interestelar no passaporte.

Antes de tudo: não há qualquer risco de colisão desse objeto com a Terra! Os dados preliminares mostram sua trajetória cruzando a órbita de Marte, mas também sem se aproximar do Planeta Vermelho.

Visualização da óribta do objeto A11pl3Z com dados preliminares, gerada na ferramenta Orbit Viewer do programa Catalina Sky Survey.

A Descoberta

O objeto foi descoberto em observações realizadas por um telescópio da rede ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System) a partir do Chile, com magnitude aparente 18 e localizado a 4 unidades astronômicas da Terra (1 unidade astronômica é uma medida de distância equivalente à distância média da Terra ao Sol, ou aproximadamente 150 milhões de km).

Os telescópios da rede ATLAS enxergam uma grande área do céu, um campo total de 7,5°, ou o equivalente a 15 vezes o diâmetro da Lua Cheia. Isso permite uma grande cobertura do céu em sucessivas varreduras em busca de asteroides.

Em seguida aos alertas de novas detecções, outros telescópios confirmam a presença dos objetos e produzem novos dados de posição, alimentando os programas para determinação de órbitas.

A rede Deep Random Survey foi uma das que colaborou com a produção de dados de posição do A11pl3Z.

Imagem do objeto interestelar A11pl3Z capturada por telescópio da rede Deep Random Survey. Créditos: K Ly/Deep Random Survey.


Novas observações são necessárias e a astronomia amadora pode contribuir com dados de posição e brilho, ajudando a conhecer com mais precisão a órbita do A11pl3Z. Efemérides para observação do objeto podem ser geradas pelo Center for Near Earth Objects Studies (CNEOS) do Jet Propulsion Laboratory (JPL).

Dados recuperados de observações de arquivo permitiram localizar o A11pl3Z em imagens capturadas anteriormente, ajudando a refinar os parâmetros orbitais iniciais. Com os dados disponíveis na manhã de 2 de julho, é possível determinar que a máxima aproximação do objeto ao Sol ocorrerá em outubro, passando a uma distância 36% maior que a distância média da Terra ao Sol. Infelizmente, a Terra e o A11pl3Z estarão em posições diametralmente opostas, dificultando a observação do objeto durante o periélio.

Visitas Anteriores

Anteriormente, os objetos 1I/Oumuamua e 2I/Borisov também tiveram suas trajetórias traçadas com origem no espaço interestelar. Este é também um campo onde o Observatório Vera Rubin poderá contribuir aumentando o censo de objetos detectados. Sua câmera de 3200 Megapixels, durante uma primeira rodada de demonstração, descobriu impressionantes 2104 asteróides, mostrando seu potencial como um rastreador de objetos do Sistema Solar. Na imagem abaixo, um pequeno recorte de uma das primeiras imagens publicadas pelo Observatório Rubin, cada traço colorido é um asteróide detectado.

Asteróides detectados pelo Observatório Vera Rubin em campo na direção da constelação de Virgem. NSF-DOE Vera C. Rubin Observatory.

Elementos Orbitais Provisórios

Elementos Orbitais (provisórios):  A11pl3Z

Perihelion 2025 Oct 29.66294 +/- 0.219 TT = 15:54:38 (JD 2460978.16294)
Epoch 2025 Jul  2.0 TT = JDT 2460858.5   Earth MOID: 0.3557   Ju: 0.2478
q   1.34709127 +/- 0.0135           Ma: 0.0199   Sa: 0.4081      AutoNEOCP
H   11.92 G 0.15                    Peri.  128.10518 +/- 0.14
z  -3.7599875674 +/- 0.0381         Node   322.07493 +/- 0.10
e   6.0650464 +/- 0.102             Incl.  175.10957 +/- 0.0045

106 of 108 observations 2025 June 14-July 2; mean residual 0".38

Observatório da UNIVAP acompanha erupção de estrelas!

Com um intervalo de menos de um mês, duas estrelas do hemisfério sul celeste resolveram dar um show pirotécnico ao alcance de pequenos telescópios e binóculos! Faltou só mais uma erupção para o time das variáveis cataclísmicas poder pedir música no Fantástico.

Variáveis Cataclísmicas

As erupções detectadas foram do tipo nova, nas constelações do Lobo e da Vela e ambas estão ao alcance de pequenos telescópios e binóculos e são facilmente fotografáveis com câmeras DSLR.

As novas fazem parte de uma classe de estrelas variáveis conhecidas como cataclísmicas.

Pra saber mais sobre o que gera essas erupções das novas, conversamos com um especialista em variáveis cataclísmicas, o astrofísico Alexandre Oliveira, pesquisador e professor no Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento na UNIVAP, que nos contou:

Uma nova ocorre em sistemas binários compostos por uma estrela compacta, uma anã branca, e uma companheira, que é uma estrela comum. E elas estão tão próximas entre si que há transferência de massa da companheira para a anã branca. Quando essa massa que vai se acumulando na anã branca atinge certas condições de temperatura e pressão, ela é lançada para o espaço na forma de uma erupção, que aumenta drasticamente o brilho do sistema.

V462 Lup

A primeira erupção foi detectada na constelação de Lobo (Lupus), no dia 12 de junho, pela rede de telescópios All Sky Automated Survey for SuperNovae (ASAS-SN) enquanto seu brilho ainda crescia (mag g=8,7). O objeto foi anunciado como uma nova galáctica clássica no Astronomer’s Telegram ATel #17228.

A nova, que também tem as designações V462 Lupi e Nova Lupi 2025, atingiu um brilho no limite da visibilidade a olho nu em locais menos afetados pela poluição luminosa, mas idealmente utilize binóculos e pequenos telescópios para encontrá-la em meio ao rico campo galáctico na constelação do Lobo.

O diagrama abaixo mostra um campo com 2° de largura (o equivalente a 4 Luas Cheias), com o norte para cima e o leste à esquerda, coincidindo com a orientação do campo de binóculos.

A Nova Lupi 2025 ao telescópio.

Ao telescópio, a Nova Lupi 2025 é um alvo fácil. A imagem abaixo foi capturada com um telescópio inteligente Seestar S50, na noite de 26 de junho. A Nova é o objeto mais brilhante no campo de aproximadamente 1° de largura.

Uma erupção é pouco.

Mas uma erupção de nova não foi suficiente e teve dobradinha no mês de junho! A nova brilhante V572 Velorum foi descoberta simultaneamente por dois observadores na Austrália, utilizando câmeras do tipo DSLR no dia 25 de junho, com magnitude visual estimada pelos descobridores entre 5,6 e 5,7. No dia 26 de junho, K. Youshimoto, no japão reportou magnitude 4,9 em observações com CCD, bem dentro do limite de visibilidade a olho nu! [ ATel #17254].

Abaixo vemos a posição da V572 Vel num chart da AAVSO e em seguida em uma simulação do Stellarium.

Posição da Nova V572 Vel em campo gerado no software Stellarium.

A Nova V572 Vel ao telescópio.

A imagem abaixo foi capturada através de um telescópio Seestar S50. A Nova V572 Vel é o objeto mais brilhante no campo.

Nova V572 Vel, capturada através de telescópio Seestar S50 no Observatório da UNIVAP.
Nova V572 Vel. Versão da imagem com indicação de escala e orientação, com coordenadas sobrepostas.

Leia também!

Solstício: O Sol Estacionado

Às 23:42 h do dia 20 de junho de 2025, o inverno astronômico iniciou para os habitantes do hemisfério sul. No hemisfério norte, era o início do verão.

Mas como determinamos com precisão de minutos quando cada estação inicia? E que evento astronômico determina o início das estações?

O Calendário Astronômico

As 24h que correspondem ao dia civil são determinados por um fenômeno astronômico: as passagens sucessivas do Sol pelo meridiano local. Traduzindo: se você cronometrar a passagem do Sol pelo ponto mais alto de sua trajetória diurna entre dois dias sucessivos, durante todo o ano, vai encontrar um período médio de 24h.

A duração do ano civil e o início das estações do ano também se baseiam em fenômenos astronômicos. E esses fenômenos estão ilustrados na série de imagens abaixo!

Além da beleza do pôr do Sol, as imagens revelam que ao longo do ano o Sol não se põe sempre no mesmo ponto.

Um Ano em Quatro Imagens

  • Na primeira imagem, o Sol aparece se pondo exatamente no ponto cardeal oeste. Quando este evento acontece em março, temos o início do outono no hemisfério sul e da primavera no hemisfério norte.
  • A segunda imagem mostra o Sol se pondo no ponto mais extremo ao norte. Esse é o solstício de junho, o evento que marca o início do inverno no hemisfério sul.
  • Na terceira imagem, o Sol se põe novamente exatamente sobre o ponto cardeal oeste, no equinócio de setembro. É o início da primavera no hemisfério sul e do outono no hemisfério norte.
  • Na última imagem o Sol se põe no ponto mais extremo ao sul, no solstício de dezembro, marcando o início do verão no hemisfério sul e do inverno no hemisfério norte.
A figura é composta de 4 imagens do pôr do Sol de São José dos Campos nas 4 estações do ano, as imagens são compostas por montanhas ao fundo e árvores em primeiro plano. A primeira imagem, ao topo, mostra o pôr do Sol no Equinócio de Março, o Sol se põe mais ao centro da figura. A segunda imagem, abaixo da anterior, mostra o pôr do Sol no Solstício de Junho, o Sol se põe mais ao canto direito. Na terceira imagem, abaixo da anterior, mostra o pôr do Sol no equinócio de Setembro, o Sol se põe também mais ao centro da imagem. Na quarta e última imagem, abaixo da anterior, mostra o pôr do Sol no Solstício de Dezembro, o Sol se põe mais ao canto esquerdo da imagem.
O pôr do Sol em São José dos campos em diferentes meses do ano. Imagens: Wandeclayt M./@ceuprofundo.

O Sol realiza esse movimento oscilatório, nascendo (e se pondo) cada dia em um ponto diferente, indo de um extremo no sul até um extremo no norte e em seguida retornando.

O início de cada uma das estações, do ponto de vista astronômico, é determinado pela passagem do Sol por coordenadas celestes bem específicas. Quando o Sol cruza o equador celeste, o dia claro e a noite tem a mesma duração em ambos os hemisférios. É o que chamamos de EQUINÓCIOS. Os equinócios marcam o início do outono e da primavera.

Quando o Sol atinge os pontos extremos, ao norte ou ao sul, e para de avançar, temos os SOLSTÍCIOS. Nos solstícios temos uma grande diferença de iluminação entre os hemisférios, com o hemisfério mais iluminado experimentando temperaturas mais altas e recebendo mais energia do Sol enquanto o hemisfério oposto experimenta o contrário, temperaturas usualmente mais baixas e menos energia recebida do Sol.

O diagrama abaixo mostra a diferença de iluminação entre os hemisférios em cada um dos solstícios e equinócios.

Formando a figura há 4 imagens do mapa do planeta Terra para representar a diferença de iluminação entre os hemisférios em cada um dos solstícios e equinócios. A primeira imagem mostra o equinócio em março, no mapa há duas barras escuras laterais, que cobrem verticalmente até aproximadamente a Guatemala e a outra barra até aproximadamente Blangladesh, à leste da Índia, o restante do mapa é representado na cor branca. 
A segunda imagem mostra o solstício de junho, a região escura forma uma espécie de senoide com concavidade para cima mais ao centro do mapa e concavidade para baixo mais próximo às laterais. Ou seja, região escura está mais ao sul.
A terceira imagem mostra o equinócio em setembro, no mapa há duas barras escuras laterais, que cobrem verticalmente, dessa vez, uma região um pouco mais a esquerda da Guatemala do que o último equinócio e um pouco mais a esquerda também de Bangladesh.
A quarta imagem mostra o solstício de dezembro, a região escura forma uma espécie de senoide com concavidade para baixo mais ao centro do mapa e concavidade para cima mais próximo às laterais. Ou seja, região mais escura está mais ao norte.
As porções iluminadas e sombreadas da Terra nos solstícios e nos equinócios. Gráficos gerados em CartoPy. Créditos: Wandeclayt M./@ceuprofundo.

Sitios arqueológicos como Stonehenge na Inglaterra, ou Calçoene, no Amapá, eram provavelmente grandes calendários astronômicos usados pelos povos originários nessas regiões para marcar a passagem do tempo a partir dos locais de nascimento e ocaso do Sol.

E a Duração do Ano?

Esse ciclo das estações define o Ano Trópico, com duração média de 365,2422 dias.

É esse o período que adotamos para definir o ano civil. Mas perceba que temos uma inconveniente fração de dias envolvida. É por isso que precisamos eventualmente somar um dia ao calendário, criando os anos bissextos. A regra atual é acrescentar um dia ao mês de fevereiro caso o ano seja divisível por 4. Mas temos as exceções: se o ano for divisível por 100, não acrescentamos esse dia. E temos a exceção da exceção: Se ano for divisível por 400, voltamos a colocar o dia extra!

Quer saber com mais detalhes como essa regra surgiu? Confere esse outro post onde contamos tudinho:

Observatório Vera Rubin: O Universo Como Você Nunca Viu

O Observatório NSF-DOE Vera Rubin apresentou ao público nesta segunda (23/06) as primeiras imagens do céu capturadas por sua colossal LSST Camera de 3,3 Gigapixels no evento Rubin First Look.

A apresentação pública foi um evento mundial, transmitido online e com sessões de exibição realizadas em instituições de pesquisa e em espaços de divulgação científica em vários países.

Projeção na cúpula do planetário o evento que divulgou as primeiras imagens do Observatório Vera C. Rubin. No centro da imagem, aparece a projeção de um homem de terno falando ao microfone, com o fundo do palco exibindo logotipos e o nome do observatório. Ao redor, no teto da cúpula, vê-se a projeção de uma imagem astronômica com centenas de estrelas e galáxias sobre um fundo escuro. A sessão aconteceu no Planetário do Museu Interativo de Ciências (MIC), em São José dos Campos.
Rubin First Look – Sessão do evento de apresentação das primeiras imagens do Observatório Vera Rubin no cúpula do Planetário do Museu Interativo de Ciências de São José dos Campos – MIC.

Em São José dos Campos (SP), o Museu Interativo de Ciências (MIC) e o Projeto Céu Profundo promoveram uma sessão ao vivo do evento First Look na cúpula do planetário do MIC.

Vista aérea do Museu Interativo de Ciências. O edifício principal tem formato retangular com três andares e fachada clara. À direita, conectado ao prédio, há uma torre alta com uma cúpula no topo, onde está localizado o planetário. O entorno é arborizado, com árvores e gramados, e em frente ao prédio há um pequeno parquinho com brinquedos coloridos. Ao fundo, observa-se a cidade com edifícios e montanhas ao horizonte.
Museu Interativo de Ciências de São José dos Campos (SP). Imagem: Wandeclayt M./@ceuprofundo

Mas se as gigantescas imagens do Vera Rubin projetadas no domo do planetário já eram deslumbrantes, o choque fica ainda maior quando comparamos os detalhes capturados pela LSST Camera com as imagens do levantamento Digital Sky Survey (DSS) comumente usadas nos atlas celestes digitais.

Selecionamos abaixo alguns recortes das novas imagens e comparamos com os mesmos campos no DSS para mostrar o quanto o novo instrumento vai aprofundar nossa visão do Universo.

RSCG55 – Grupo de Galáxias em Interação

A estrutura desse grupo de galáxias, a aproximadamente 400 milhões de anos luz, é talvez o detalhe que mais nos impressionou. Além do campo extremamente rico, preenchido por galáxias elípticas e espirais, a interação entre as galáxias aprisiona nosso olhar.

Recorte de imagem capturada pelas pelo do Observatório Vera C. Rubin. A imagem mostra uma região do céu com muitas estrelas e galáxias. No centro, há um grupo de galáxias interagindo, formando caudas.
Trio de galáxias em interação na região do aglomerado de Virgem. Imagem: NSF-DOE Vera C. Rubin Observatory.

O mesmo campo, na imagem do Digital Sky Survey, nem sequer sugere a existência de toda essa fascinante fauna extra galáctica.

Mesmo campo de observação da figura anterior, só que na imagem do Digital Sky Survey. Imagem destaca  grupo de galáxias identificado como RSCG 55, localizado dentro de um círculo branco. No interior do círculo, observa-se um agrupamento de galáxias próximas entre si, com formas alongadas e brilhantes, elas estão interagindo entre si. O fundo da imagem é escuro e repleto de estrelas pontuais e outras galáxias mais distantes e difusas.

NGC 4411a e NGC 4411b (UGC 7546) – Galáxias Espirais

As galáxias espirais NGC 4411a e NGC 4411b dominam este campo, mas você não vai conseguir contar quantas outras galáxias, de diversos formatos, cores e distâncias preenchem a imagem. O mesmo campo na imagem do Digital Sky Survey mostra apenas algumas dezenas de fontes.

Recorte da região do Aglomerado de Virgem capturada pelo Observatório Vera C. Rubin. Em destaque, duas galáxias espirais brilhantes . Elas estão cercadas por outras diversas galáxias menores de diversos formatos e cores, todas distribuídas num fundo escuro e composto de diversas estrelas.
Galáxias espirais “grand design” NGC 4411a e NGC 4411b capturadas pelo Observatório Vera C. Rubin. (NSF-DOE/NoirLab/Observatório Vera C. Rubin)
Mesmo campo da figura anterior, só que na imagem do Digital Sky Survey.
Imagem do céu profundo mostrando duas galáxias espirais com etiquetas de identificação. No canto inferior esquerdo, está a galáxia UGC 7546, com braços espirais sutis e estrutura azulada. Acima e à direita, encontra-se a galáxia NGC 4411a, também espiral, com brilho central mais intenso. Ambas estão cercadas por diversas estrelas pontuais e pequenas galáxias de fundo, em um campo escuro e repleto de objetos celestes distantes.

M20 – Nebulosa Trífida

Um dos objetos mais fotogênicos do céu de inverno, a Nebulosa Trífida (M20) exibe regiões onde o gás hidrogênio excitado emite sua luz avermelhada e regiões onde a luz azulada das estrelas quentes e jovens é refletida, além de filamentos escuros de poeira que obscurecem a luz das estrelas posicionadas atrás delas.

Os detalhes e o contraste obtidos pelo Vera Rubin nos deixaram extasiados.

Imagem do Observatório Vera C. Rubin da Nebulosa de Trífida. A nebulosa apresenta região central rosada, cercada por uma área azulada.  A nebulosa está envolta por um campo estelar denso, com muitas estrelas de fundo espalhadas em tons de azul e dourado.
Nebulosa Trífida, capturada pelo Observatório Vera C. Rubin. (NSF-DOE/NoirLab/Observatório Vera C. Rubin)
Imagem da Nebulosa de Trífida em detalhe do levantamento Digital Sky Survey. A imagem está em tons de amarelo e laranja, com a nebulosa destacada ao centro em tons bem claros. A nebulosa está envolta de um campo estelar denso, com muitas estrelas de fundo.
Nebulosa Trífida em detalhe do levantamento Digital Sky survey (DSS).

M8 – Pilares de Poeira na Nebulosa da Lagoa

A Nebulosa da Lagoa (M8) é outro alvo disputado pelos telescópios amadores no céu de inverno, mas esses detalhes de sua estrutura transformam completamente nossa visão da extensa nebulosa.

 Detalhe da Nebulosa da Lagoa capturada pelo Observatório Vera C. Rubin. Na imagem, a nebulosidade é representada com uma coloração rosada e ao centro há duas regiões mais escuras trazendo um formato de pilar. Em primeiro plano, a imagem é composta de diversas estrelas com cores azuladas e alaranjadas.
Detalhe da Nebulosa da Lagoa, capturada pelo Observatório Vera C. Rubin. (NSF-DOE/NoirLab/Observatório Vera C. Rubin)
Mesma região da imagem anterior, no Digital Sky Survey. A imagem é toda alaranjada e as regiões mais escuras vistas na imagem anterior já não são tão nítidas. Em primeiro plano há diversas estrelas de cor branca espalhadas pelo campo de visão inteiro.
A mesma região da imagem anterior, no Digital Sky Survey.

Observatório Vera C. Rubin: Um Primeiro Olhar para o Futuro da Astronomia

Anúncio do Rubin's First Look. Salve a data: 23 de Junho de 2025.
NSF–DOE Vera C. Rubin Observatory revela as primeiras imagens capturadas com a LSST câmera.

O Observatório NSF-DOE Vera C. Rubin revelou nesta segunda-feira (23/06) as primeiras imagens do céu capturadas pela maior câmera do planeta! Com seus colossais 3200 Megapixels a LSST Camera, acoplada ao também revolucionário Simonyi Survey Telescope, é uma revolução em nossa maneira de explorar o Cosmos.

Do Cerro Pachón aos Limites do Universo

Construído sobre os Andes chilenos, no Cerro Pachón, vizinho aos telescópios Gemini Sul e SOAR (ambos com participação brasileira, através do Laboratório Nacional de Astrofísica, em seus consórcios), o Observatório Vera C. Rubin tem a missão de varrer o céu do hemisfério sul repetidamente durante os próximos 10 anos, coletando 20 Terabytes de dados por noite e gerando um monumental vídeo em time-lapse do Universo.

Observatório Vera C. Rubin à noite, no alto de uma montanha, com sua estrutura em branco destacando-se em primeiro plano. Ao fundo, o céu está repleto de estrelas e há um brilho suave próximo ao horizonte. A paisagem ao fundo é composta de outras montanhas; mais ao fundo é possível detectar luzes de cidade.
Observatório NSF-DOE Vera C. Rubin Observatory. Imagem: Hernán Stockebrand (NOIRLab Audiovisual Ambassador).

Essas repetidas varreduras permitirão detectar pequenas mudanças entre imagens sucessivas, como variação de brilho de estrelas ou pequenos deslocamentos de asteroides e cometas. Essas variações temporais são a chave para importantes descobertas, que vão desde novos corpos em nosso sistema solar, explosões de supernovas e até a compreensão da natureza da matéria e energia escura.

São esperados 10 milhões de alertas automatizados por noite, disparados por mudanças detectadas nas imagens.

As primeiras imagens publicadas dão uma ideia da avalanche de descobertas que nos espera. Em 7 dias de observação, as imagens revelaram 2104 asteroides! O número de asteroides conhecidos hoje, descobertos ao longo dos últimos 200 anos é de aproximadamente 1 milhão. Espera-se que o Vera Rubin descubra 5 MILHÕES de asteroides nos próximos anos!

Imagem capturada pelo Observatório Vera C. Rubin, mostrando muitas estrelas e galáxias espalhadas pelo espaço de fundo escuro. Espalhados pela imagem, há dezenas de pequenos rastros coloridos — em vermelho, verde e azul — que indicam o movimento de asteroides registrados durante a exposição da imagem.
Cada trilha colorida nesta porção de uma imagem capturada pelo Observatório Vera Rubin é o rastro de um asteroide. No total, 2104 asteroides foram descobertos no campo das primeiras imagens. https://skyviewer.app/explorer?target=186.57565+9.0373&fov=0.04

Milhões de novos asteroides serão detectados, distâncias a outras galáxias poderão ser melhor conhecidas, a distribuição da matéria escura poderá ser mapeada.

Exibir e visualizar as imagens é também um desafio, mas uma ferramenta especial foi desenvolvida para permitir a exploração em detalhes das gigantescas capturas. Acesse o portal https://skyviewer.app para mergulhar nos detalhes vertiginosos que se escondem em cada pixel das imagens da LSST Camera.

Recorte de imagem capturada pelas pelo do Observatório Vera C. Rubin. A imagem mostra uma região do céu com muitas estrelas e galáxias. No centro, há um grupo de galáxias interagindo, formando caudas.
Interface da plataforma Skyviewer, exibindo recorte de uma das primeiras imagens do Observatório Vera Rubin.

Ciência Além da Imaginação

Mas essas são apenas questões que já estão sobre a mesa da ciência atualmente. Instrumentos revolucionários como o Simonyi Survey Telescope e a LSST Camera costumam levantar questões sequer imaginadas, abrindo novas fronteiras para a ciência!

Além de imagens com detalhes sem precedentes, como a que vemos neste recorte do Aglomerado de Virgem, uma região do céu rica em galáxias brilhantes, onde nenhuma porção da imagem aparece desabitada por galáxias mais distantes, também se espera que perguntas científicas sem precedentes surjam a partir da análise dos dados.

Recorte da região do Aglomerado de Virgem capturada pelo Observatório Vera C. Rubin. Em destaque, duas galáxias espirais brilhantes . Elas estão cercadas por outras diversas galáxias menores de diversos formatos e cores, todas distribuídas num fundo escuro e composto de diversas estrelas.

O telescópio também poderá ser rapidamente redirecionado para alvos de oportunidade, apontando para fenômenos raros e transientes descobertos em outros observatórios.

O Observatório foi financiado pela National Science Foundation (NSF) e pelo Escritório de Ciência do Departamento de Energia dos EUA e é operado pelos laboratórios NOIRLab e SLAC, mas o Brasil é um elo vital na cadeia de transmissão rápida da avalanche de dados produzidos pelo Vera C. Rubin, através da infraestrutura fornecida pelo Laboratório Interinstituicional de e-Astronomia (LIneA)

A Ciência no Domínio Público

Estamos vendo o alvorecer de uma nova era na Astronomia. Com dados de qualidade e volume sem precedentes que revolucionarão nossa maneira de investigar o Cosmos. Mas o Observatório Vera C. Rubin vai além da pesquisa e tem sólidas iniciativas de educação e divulgação em Astronomia. Workshops e programas educacionais são disponibilizados em diversos idiomas e podem ser encontrados em https://rubinobservatory.org/education.

Acesse os recurso educacionais do Vera C. Rubin e aproprie-se você também dessa Ciência.

O Show dos Planetas em Junho!

Esqueça os alarmistas (e falsos) anúncios de raríssimos alinhamentos dos planetas que congestionam as redes sociais e fique de olho no que realmente está embelezando os céus em junho!

Este post complementa nosso calendário mensal de eventos astronômicos e traz dicas para observação dos planetas e da Lua na segunda metade de junho de 2025.

Mercúrio

O planeta Mercúrio pode ser considerado uma visão rara, afinal ele se afasta muito pouco do Sol e precisa de céus limpos e visão desobstruída do horizonte a oeste para que possa ser observado, condições que poucas cidades oferecem. Mas para quem tem o privilégio de ter um horizonte visível no pôr do Sol da segunda quinzena de junho, Mercúrio estará ornando o entardecer. E nós já fizemos nossa captura no fim da tarde do dia 16 de junho enquanto o planeta compunha a cena com as estrelas castor e Póllux na constelação de Gêmeos:

Fotografia do céu ao entardecer, feita no dia 16 de junho de 2025 às 18h18, da cidade de São José dos Campos, SP. O horizonte exibe tons alaranjados e azulados, típicos do pôr do sol, com árvores e morros escurecidos na parte inferior da imagem. Três objetos são identificados no céu, sendo eles: Mercúrio, visível como um ponto brilhante à esquerda, mais próximo do horizonte; Pollux (β Geminorum), mais acima à direita; Castor (α Geminorum), próximo de Pollux, mas abaixo.
No canto inferior da imagem está o crédito: CC-BY-NC Wandeclayt M. / @ceuprofundo
Mercúrio visível ao entardecer em são José dos Campos. Imagem: Wandeclayt M./@ceuprofundo

Marte

Entre os dias 16 e 18 de junho, Marte visita a estrela Regulus, a mais brilhante na constelação de Leão. Fique de olho na primeira metade da noite enquanto o planeta vermelho chama a atenção pela proximidade com Regulus.

A imagem abaixo foi capturada na noite de 16 de junho em São José dos Campos e mostra Marte próximo do coração do Leão.

Fotografia do céu noturno de 16 de junho de 2025 às 20h20, feita em São José dos Campos (SP). Mostra o planeta Marte próximo da estrela Regulus (α Leonis) no canto esquerdo, dentro da constelação de Leão, que está desenhada com linhas finas e brancas. O fundo é escuro, com diversas estrelas visíveis.
No canto inferior da imagem está o crédito: CC-BY-NC Wandeclayt M. / @ceuprofundo
Marte na constelação do Leão e em conjunção com Regulu, fotografado em são José dos Campos. Imagem: Wandeclayt M./@ceuprofundo

A Lua

Ao se encaminhar para a fase minguante, a Lua permanece visível no céu durante as manhãs. Lembre de procurar nosso satélite no céu matutino para começar o dia com uma inspiradora visão. Um bom café a visão da Lua são nossa receita para começar bem o dia.

Fotografia da Lua 75% iluminada, capturada em 16 de junho de 2025 às 08:05 em São José dos Campos – SP. A Lua aparece no centro da imagem com muitos detalhes visíveis de sua superfície e crateras, em um céu azul claro.
No canto inferior da imagem está o crédito: CC-BY-NC Wandeclayt M. / @ceuprofundo
Lua matutina com 75% de sua face visível iluminada, fotografada na manhã de 16 de junho de 2025 em São José dos Campos. Imagem: Wandeclayt M./@ceuprofundo

Júpiter

Júpiter se aproxima da conjunção com o Sol, o ponto em que o Planeta Gigante passará por trás do Sol. A proximidade aparente de Júpiter com o Sol nos dias que antecedem e sucedem a conjunção nos impedem de observá-lo, mas um telescópio especial consegue acompanhá-lo nesse período: o SOHO (Solar and Heliospheric Observatory) é um telescópio espacial das agências NASA e ESA dedicado a observação solar.

Um de seus instrumentos, o LASCO (Large Angle and Spectrometric COronograph), produz um ‘eclipse artificial‘ ocultando o disco solar e permitindo a observação da região conhecida como coroa solar e de objetos transitando no campo.

Foi nas imagens do Lasco, acessadas pela plataforma Helioviewer, que buscamos Júpiter na manhã do dia 17 de junho para trazê-lo aqui:

Imagem capturada pelo satélite SOHO (instrumento LASCO C3), mostrando o planeta Júpiter à esquerda do Sol, localizado no centro. O centro da imagem está coberto por um disco preto que oculta o Sol para destacar sua coroa. Sobre o disco preto, sobrepondo a imagem, há uma representação em vermelho do Sol em ultravioleta, observado pelo telescópio SDO. Ao redor, filamentos se espalham em azul intenso. A data da observação é 17 de junho de 2025, com horário registrado às 05:54
No canto inferior direito está escrito "www.helioviewer.org" e a logo do site HelioViewer.

A imagem acima é uma composição das imagens de dois telescópios. Em azul vemos o campo do coronógrafo LASCO, do telescópio SOHO. Em vermelho vemos o Sol em ultravioleta, observado pelo telescópio SDO.

Sem Descanso: O Sol Trabalhou Pesado no Final de Semana

Enquanto aqui na Terra lutamos contra a esmagadora escala 6×1, a 150 milhões de quilômetros daqui, o Sol não descansou no fim de semana. Uma região ativa que se dirige ao limbo oeste do Sol emitiu um inesperado flare categoria X no fim da noite deste sábado (24/5).

E a mesma região deu um replay do espetáculo (mas com um pouco menos de intensidade, atingindo a categoria M, um pouco abaixo do limite da categoria X) na tarde deste domingo (25/5), por volta das 13:30h (horário de Brasília).

As imagens abaixo são uma composição de quadros capturados em duas faixas do ultravioleta pelo satélite de observação solar SDO (Solar Dynamics Observatory).

Imagem do Sol capturada pelo Observatório de Dinâmica Solar mostrando detalhes em vermelho e laranja intensos. No canto superior esquerdo da imagem, observa-se a emissão de um flare categoria X. A imagem foi registrada em 24 de maio de 2025, utilizando os comprimentos de onda AIA 304 e AIA 193. No canto inferior direito, está o logotipo e o endereço do site helioviewer.org.
Flare classe X1.1 emitido pela região ativa AR4098 às 22:52 do sábado (24/5) no horário de Brasília. Imagens: NASA/SDO/AIA via Helioviewer.
Imagem do Sol capturada pelo Observatório de Dinâmica Solar mostrando detalhes em vermelho e laranja intensos. No canto superior esquerdo da imagem, observa-se a emissão de um flare categoria M. A imagem foi registrada em 25 de maio de 2025, utilizando os comprimentos de onda AIA 304 e AIA 193. No canto inferior direito, está o logotipo e o endereço do site helioviewer.org.
Flare classe M8.9 emitido pela região ativa AR4098 às 13:32 do domingo (25/5) no horário de Brasília. Imagens: NASA/SDO/AIA via Helioviewer.

Regiões ativas são regiões de concentração do campo magnético solar. Regiões com campos mais intensos podem fornecer energia para eventos como flares e ejeções de massa coronal (CME). Estudar e monitorar essas regiões é fundamental para a previsão de seus efeitos na interação com o campo magnético terrestre.

Esses efeitos incluem apagões de rádio em frequências usadas para comunicação ou mesmo a indução de correntes que podem sobrecarregar sistemas de transmissão de energia elétrica na Terra. Satélites com trajetórias passando por áreas afetadas pelas emissões solares também podem ser impactados e em certos casos é preciso desligá-los para evitar danos aos circuitos.

A perturbação da ionosfera pela atividade solar causa também um aumento do arrasto em satélites em órbita baixa, além de impactar na precisão de sistemas globais de navegação por satélite, como GPS (EUA), GLONASS (Rússia), Galileu (Europa) e BeiDou (China).

Classificando Flares

Os flares recebem uma classificação de acordo com a intensidade do pico do fluxo de raios X medidos por satélites na Terra na faixa entre 0,1 e 0,8 nm.

  • B  –   Intensidade menor que 1 µW/m2                                         
  • C  –   Intensidade entre 1 e 10 µW/m2      
  • M –  Intensidade entre 10 e 100 µW/m2                                     
  • X  –  Intensidade maior que  100 µW/m2   

Cada classe é 10 vezes mais intensa que a anterior, e entre elas usamos um multiplicador para estabelecer uma graduação. Um flare M8.9, como o capturado na imagem acima corresponde a um pico de 8,9 x 10 µW/m2 = 89 µW/m2 . Ou seja, muito próximo do limite de 100 µW/m2 da classe X.

A classe X é ilimitada, e pode receber multiplicadores maiores que 10 para indicar flares mais intensos que 1 mW/m2.

Gráfico de linhas que representa a intensidade da flare ao longo do tempo. Esse gráfico se refere às duas imagens acima. Observa-se a presença de quatro picos, sendo a primeira e a última correspondentes às flares das imagens acima, em ordem.
Emissão de raios X detectados por satélites da NOAA. Os flares das imagens acima correspondem ao primeiro e ao último pico no gráfico. Créditos: NOAA/SWPC.

A região ativa responsável pelos eventos é identificada como AR14098, na numeração oficial atribuída pelo SWPC (Centro de Previsão do Clima Espacial) da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) e pode ser vista na imagem abaixo, na área com manchas escuras à direita e a meia altura. A imagem é uma captura do instrumento HMI do SDO.

Imagem do Sol em luz visível (HMI Continuum) capturada pelo Observatório de Dinâmica Solar. A imagem, em tons de cinza, mostra várias manchas solares na superfície identificadas com marcadores vermelhos com a sigla "AR" que significa "Região Ativa", seguidos pelos seus respectivos números de identificação. As regiões ativas parecem como áreas escuras, há várias delas espalhadas mais na zona equatorial do Sol. No canto inferior direito, aparece o logotipo do site helioviewer.org.

A imagem abaixo é nossa captura usando um telescópio solar Coronado SolarMax II, na faixa do hidrogênio alfa, uma estreita faixa do espectro emitido pelo gás hidrogênio excitado na cromosfera solar. Além de filamentos e proeminências espalhados pelo Sol, podemos ver a animada região 4098 nas proximidades do limbo oeste do Sol.

Imagem do Sol registrada em 25 de maio de 2025, com um telescópio Coronado SolarMax II de 60 mm e utilizando um filtro H-alfa. A imagem, em tons de vermelho, releva a cromosfera solar. Na imagem, há destaque para região ativa RA 4098, identificada e circundada no canto inferior direito do Sol. São visíveis filamentos escuros e protuberâncias nas bordas. No topo direito, estão as informações do equipamento e autoria da imagem, creditada a Wandeclayt M. (@ceuprofundo).

O Guia do Mochileiro da Galáxia ensina: Não Entre em Pânico!

A frase que estampa em letras garrafais a capa do fictício guia que dá nome à série de livros O Guia do Mochileiro da Galáxia (The Hitchhiker’s Guide to The Galaxy) muitas vezes beira o insustentável e o instinto parece nos recomendar entrar em pânico e jogar a toalha!

Na parte inferior da imagem há um modelo em miniatura do foguete Saturn V montado sobre suportes azuis e exposto em uma prateleira preta. Acima dele, na parede branca, há dois quadros emoldurados. O da esquerda exibe uma arte colorida com uma mão segurando um planeta com anéis e os dizeres “DON’T PANIC” em letras grandes. O quadro da direita mostra uma foto da superfície lunar.
Nosso estúdio orgulhosamente ostenta o lema do guia: Não Entre em Pânico!. Imagem: Wandeclayt M.

Mas a sabedoria de Douglas Adams nos ensina que nunca devemos nos afastar de nossa toalha:

“A toalha”, diz o guia, “é indiscutivelmente o objeto mais incrivelmente útil que um mochileiro interestelar pode ter.”
Em parte, seu valor é prático: você pode enrolá-la no corpo para se aquecer enquanto atravessa as luas geladas de Jaglan Beta; deitá-la sobre as areias brilhantes e marmóreas das praias de Santraginus V, respirando os vapores intoxicantes do mar; usá-la como cobertor sob as estrelas rubras do deserto de Kakrafoon; ou como vela de um minibarco descendo o lento e pesado rio Moth; umedecê-la para usar como uma arma em combate corporal; cobrir a cabeça para se proteger de fumaça tóxica — ou para escapar do olhar da Fera Bugblatter Devoradora de Traal (um animal absurdamente estúpido, que acha que, se você não pode vê-la, ela também não pode vê-lo — burra como uma porta, mas extremamente faminta). Em emergências, você pode agitá-la como sinal de socorro e, claro, secar-se com ela… se ainda estiver minimamente limpa.


Mas o mais importante é o valor psicológico da toalha. Se um strag (strag: não-mochileiro) descobre que um mochileiro está com sua toalha, ele automaticamente presume que o sujeito também possui escova de dentes, toalhinha de rosto, sabonete, lata de biscoitos, cantil, bússola, mapa, novelo de barbante, repelente de insetos, roupa para chuva, traje espacial etc. Além disso, o strag ficará feliz em emprestar qualquer um desses itens (ou uma dúzia de outros que o mochileiro talvez tenha “perdido” acidentalmente). Porque o strag raciocina assim: se um homem é capaz de pegar carona de um extremo ao outro da galáxia, enfrentar privações, superar adversidades terríveis, triunfar e, mesmo assim, ainda sabe onde está sua toalha… esse é um homem com quem se deve contar.”

O Guia do Mochileiro da Galáxia, Douglas Adams.

A vida, o Universo e tudo mais…

É com esse tom nonsense que os cinco livros da série cômica de ficção científica “O Guia do Mochileiro da Galáxia” nos conduzem por uma narrativa com ritmo frenético, reviravoltas mirabolantes e um humor que só poderia ter vindo de um britânico colaborador do grupo Monty Python. Por algum motivo que desconhecemos, as traduções em português escrevem “Galáxias” no plural, apesar do Guia pretender ser uma referência de planetas em nossa Via Láctea.

A obra já esteve presente em múltiplos meios: programa de rádio, série de TV, cinema… mas sua encarnação mais deliciosa talvez seja na literatura, onde Douglas Adams se permite inescrupulosamente alongar suas descrições e diálogos potencializando o clímax que nos espera na piada no fim do parágrafo.

Pessoa segura um exemplar do livro The Ultimate Hitchhiker’s Guide to the Galaxy, de Douglas Adams. Ao fundo vê-se dois teclados e dois sintetizadores.
Versão “ultimate” em inglês, reunindo os cinco volumes originais da saga. Imagem: Wandeclayt M.

O mote da história entrou para os anais da cultura pop: um super computador foi construído por uma raça alienígena para descobrir a resposta para a questão fundamental da vida, do universo e tudo o mais… e o computador, após milhões de anos de cálculos, chega a esse tão almejado objetivo: a resposta é 42!

Só então fica óbvio que embora agora saibamos sua resposta, ninguém sabe qual é essa questão fundamental e um computador ainda mais poderoso precisa ser construído.

A história tem como protagonistas Ford Prefect, um mochileiro que trabalha escrevendo para o Guia, uma obra que pretende ser a fonte definitiva de informação para aqueles que se aventuram a mochilar pela galáxia e Arthur Dent, um terráqueo pouco afortunado, amigo de Ford, que acaba sendo arrastado pelos acontecimentos.

A aventura tem início quando Arthur, resgatado por Ford, escapa da demolição da Terra!

Enquanto isso, somos apresentados a uma muito peculiar fauna de personagens. Marvin, o androide depressivo que rouba a cena e muitas passagens do livro, o hedonista e irresponsável, embora carismático, Zaphod Beeblebrox, e por fim, Tricia McMillian, ou Trillian, uma matemática e astrofísica terráquea que também havia deixado a Terra antes da demolição.

O Dia da Toalha

Para celebrar a influência dessa obra prima da literatura universal, o dia 25 de maio é, desde 2001, lembrado como o Dia da Toalha, ou mais genericamente, como o Dia do Orgulho Nerd.
Não se espante se nesse dia você encontrar fãs de Adams e do Guia caminhando pelas ruas com uma inseparável toalha sobre o ombro. Afinal, este é o objeto mais incrivelmente útil que um mochileiro interestelar pode ter.

Cena do filme Guia do Mochileiro da Galáxia (2005), ambientada em um cenário futurista com iluminação suave e design arredondado. Em primeiro plano, um homem com capacete branco e casaco marrom segura um pequeno objeto com correntes, apontando-o para frente de forma dramática. Atrás dele, três pessoas observam a ação com expressões de surpresa e curiosidade.
A controversa versão cinematográfica do Guia do Mochileiro da Galáxia (2005). Spyglass/Buena Vista Pictures.

O Guia do Mochileiro da Galáxia – Versões

Surgindo como um programa de rádio na BBC em 1978, a saga do Guia migrou para a literatura e deu origem a cinco livros publicados entre 1979 e 1992.

  • O Guia do Mochileiro da Galáxia (1979)
  • O Restaurante no Fim do Universo (1980)
  • A Vida, o Universo e tudo o mais (1982)
  • Até Mais e Obrigado pelos Peixes (1984)
  • Praticamente Inofensiva (1992).

Uma adaptação para o cinema, estreou em 2005, com participação de Douglas Adams no roteiro, com um elenco estelar, mas longe de atingir a aclamação unânime dos fãs.

Constelações em suas mãos!

Você já imaginou como seria tocar o céu? Ou explorar as crateras da Lua apenas pelo tato? É exatamente essa experiência que o projeto de acessibilidade para divulgação astronômica do planetário do Museu Interativo de Ciências (MIC), localizado em São José dos Campos- SP, quer proporcionar para pessoas com deficiência visual.

Estudamos astronomia a partir de um recurso essencialmente imagético: o céu. Sendo assim, surge uma barreira para o ensino dessa ciência para pessoas com deficiência visual. Essa preocupação é ampliada quando trazemos a discussão para espaços de divulgação astronômica como museus e planetários. A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (lei nº 13.146/2015) assegura que a pessoa cega tenha o direito de ter acesso pleno a informações e bens culturais em formato adaptado.

Pensando nisso, iniciou-se em 2024 um projeto de extensão do MIC, através do qual foram desenvolvidas constelações táteis planificadas (Fig. 1) para auxiliar nas sessões de planetário. O desenvolvimento dessas constelações contou com o apoio de Tânia Dominici, pesquisadora titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e Projeto Céu Profundo.

Para o desenvolvimento das constelações táteis, foi usada como técnica principal a costura sobre o papel. Optou-se por utilizar a costura para representar o asterismo de cada constelação, ou seja, a figura formada pelas estrelas mais brilhantes de cada região do céu delimitada pela União Astronômica Internacional (IAU). Foram usados strass adesivo para representar as estrelas do asterismo e tinta relevo para o restante das estrelas que compõem a constelação. Ao todo, foram desenvolvidas treze constelações: zodiacais e Órion.

A imagem mostra seis folhas de papel branco sobre uma mesa preta. Cada folha possui uma constelação tátil diferente, representada por pontos azuis indicando estrelas, interligados por linhas finas pretas que formam figuras de animais, pessoas e seres mitológicos. Pequenos pontos pretos ao redor representam o restante das estrelas presentes em cada constelação.
Figura 1- Constelações Táteis. Créditos: Camila Viell.

Em 2025, o projeto recebeu apoio do Observatório de Astronomia e Física Espacial da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) através do empréstimo de uma Lua tátil feita em impressão 3D. Através desse recurso, pessoas com e sem deficiência visual conseguem explorar as crateras da Lua apenas pelo tato.

No momento, o projeto conta com o desenvolvimento de dois novos recursos táteis: Carta celeste tátil e o asterismo da constelação Cruzeiro do Sul em três dimensões para representar distâncias entre estrelas. Todos os materiais tem como objetivo auxiliar na dinâmica de monitoria do MIC e tornar a visita ao planetário mais acessível!

Dos dias 17 a 24 de maio de 2025 acontecerá a exposição “Acessibilidade na Astronomia” no planetário do Museu Interativo de Ciências, onde as constelações táteis, a Lua tátil e a carta celeste tátil estarão expostas para a comunidade.

A imagem mostra uma mesa coberta com um pano preto no planetário do Museu Interativo de Ciências. Sobre a mesa estão dispostas oito constelações táteis. À direita da mesa, há uma esfera branca representando a superfície lunar, com crateras em relevo. Também sobre a mesa, no canto inferior direito, há um tecido em formato retangular com dois círculos com constelações bordadas, uma representando o polo norte celeste e outra o polo sul celeste. Ao fundo da imagem, destaca-se uma grande maquete iluminada do Sol em tons de laranja e amarelo. À esquerda e ao fundo, há um painel educativo com textos abordando tópicos de astronomia.
Figura 2- Exposição “Acessibilidade na Astronomia” no planetário do Museu Interativo de Ciências. Créditos: Camila Viell

O Museu Interativo de Ciências fica localizado na Rua Prof. Felício Savastano, S/N – Vila Industrial, São José dos Campos – SP. O museu abre de terça-feira à sexta-feira das 8h às 17h e aos sábados das 9h às 13h. Para fazer o agendamento da sua visita e para mais informações, clique aqui. Venha prestigiar a exposição!