Telescópio Espacial Hubble após a missão de serviço SM-4 em 2009.
Notícia ansiosamente esperada pela comunidade astronômica: o Space Telescope Science Institute (STScI) informou em nota nesta segunda (15/03) que o instrumento Wide Field Camera 3 (WFC3) no Telescópio Espacial Hubble foi religada na noite do sábado 13/03 .
A WFC3 é o instrumento de imagem mais moderno em operação no Telescópio Hubble, instalado em sua última missão de manutenção e modernização no ano de 2009. A WFC3 combina dois detectores independentes, o UVIS, com sensibilidade do ultravioleta ao infravermelho próximo na faixa entre 200 e 1000nm, e o IR, sensível ao infravermelho na faixa entre 800 e 1700nm. Gerando imagens de até 4k x 4k pixels com o detector UVIS e de até 1k x 1k pixels no IR.
Estrutura interna da câmera WFC3 com com o caminho óptico até seus dois detectores: UVIS (caminho em azul) e IR (caminho em vermelho). [Crédito: Dressel, L., 2021. “Wide Field Camera 3 Instrument Handbook, Version 13.0” (Baltimore: STScI)]
O desligamento do instrumento ocorreu como parte dos procedimentos para entrada do observatório no modo de segurança após a detecção de uma falha de software no computador de voo principal do Hubble.
Durante a volta às operações na quinta 11/03, uma voltagem abaixo do nominal detectada no monitoramento de uma fonte de tensão da WFC3 disparou um alarme interno que impediu o religamento do instrumento.
Análises mostraram que os níveis de tensão das fontes da WFC3 caíram em função da degradação esperada em seus circuitos eletrônicos (a WFC3 foi instalada no Hubble em 2009) . O desligamento dos circuitos para a entrada no modo de segurança causou o resfriamento dos componentes. Este fator, unido à potência mais alta requerida para reiniciar o instrumento contribuíram para a flutuação de tensão que impediu o religamento do equipamento. A engenharia do Hubble concluiu que era seguro reduzir os limites para o desligamento automático do instrumento e religar a WFC3 no modo científico.
Antes de voltar a coletar dados científicos, a WFC3 passará por procedimentos de calibração e rotinas pré observacionais. Em seguida, a poderosa câmera retornará à sua agenda científica, coletando dados e ajudando a expandir nossa compreensão do universo.
A aquisição mais procurada por entusiastas da observação do céu é definitivamente o primeiro telescópio. Instrumentos ópticos de qualidade infelizmente não são tão baratos, e não é raro que a frustração em mexer em um telescópio desnecessariamente complicado para um iniciante acabe o transformando num cabide de roupa no meio da sala. Por isso, escrevemos um guia para ajudar nos detalhes que precisam ser considerados ao se adquirir sem arrependimentos o primeiro telescópio, com dicas de fabricantes nacionais:
Primeira regra de ouro: aprenda o céu da sua região! Quanto mais você souber sobre os objetos que quer e pode ver, mais informação terá para auxiliar na escolha do modelo ideal. Aplicativos gratuitos de cartas celestes e simulação do céu: Stellarium, Carta Celeste, Sky Map. Para conferir a poluição luminosa da sua região: https://www.lightpollutionmap.info/. Além disso, observe se há muitas obstruções no horizonte como prédios e montanhas.
Captura de tela do aplicativo Stellarium.
Informe-se MUITO sobre os tipos de telescópios amadores e como funcionam. Você descobrirá que existem diversos modelos e a partir daí pode começar a refinar a sua procura de acordo com seu orçamento, necessidades e limitações. Já fizemos um post sobre os tipos de telescópios aqui: https://ceuprofundo.com/2020/12/31/conhecendo-os-tipos-de-telescopio/
Há outras questões além do céu que devem ser consideradas, como se o telescópio precisa ser leve e prático para ser transportado (a casa tem escadas, por exemplo?) e quanto espaço há disponível para observação e para guardar o equipamento.
Binóculos são uma excelente opção para começar a prática da observação. Possuem preços mais acessíveis e são de fácil manuseio, permitindo que a observação e o estudo do céu sejam suas únicas preocupações no início.
“Até onde esse telescópio vê?”
O telescópio não trabalha com limites de distância, mas sim de brilho. Quanto mais brilhante o objeto aparece no céu, mais nítida será a imagem dele. Há objetos na nossa própria galáxia mais difíceis de observar do que outras galáxias.
Pense no telescópio como um balde de coletar luz para os nossos olhos. Quanto maior for o diâmetro do telescópio, mais luz ele captura e, consequentemente, mais definição e objetos menos brilhantes é possível ver com ele. O pessoal do DeepSkyWatch fez uma comparação muito boa entre os objetos vistos por diferentes telescópios e céus: http://www.deepskywatch.com/Articles/what-can-i-see-through-telescope.html.
Um dos recursos do Stellarium é a simulação de telescópios, no menu superior direito, com o qual é possível ter uma ideia de como um objeto aparece na imagem de acordo com as configurações do telescópio que você estiver considerando adquirir.
Captura do programa Stellarium. A opção de simulação de telescópios está circulada em vermelho.Simulação do Aglomerado da Borboleta visto por um telescópio de 254mm de diâmetro e 1130mm de distância focal, com uma ocular de 25mm.
Além da imagem
O telescópio é composto por diversas partes. Uma delas é a montagem, a parte do telescópio que fica encaixada entre o tubo e o tripé – ela não é soldada, o que significa que você pode trocá-la por outra a qualquer momento.
No modelo azimutal, o telescópio fica livre para se movimentar para todos os lados, não tem segredo. O modelo equatorial tem vantagens, mas com um preço: é mais robusta de se manuear e tem movimentação mais trabalhosa.
Claro que todo mundo tem capacidade de aprender a usar a montagem equatorial! Mas se você for iniciante, talvez queira investir mais tempo explorando o céu do que se preocupando com montagens robustas e caras que talvez sejam desnecessárias para você no início. Recomenda-se começar com a mais simples (azimutal) e substitui-la no futuro caso seja uma necessidade do observador.
Exemplos de montagens de telescópios.
Todo telescópio precisa de pelo menos uma ocular. Preste atenção se o telescópio já vem com uma ou se é vendida separadamente. São facilmente intercambiáveis e podem ser compradas em kit ou avulsas a qualquer momento. Não precisa comprar um lote inteiro de cara sem saber se são compatíveis com padrão do telescópio e se serão úteis para você.
Diferentes oculares. (Fonte: Wikipedia)
“Qual o aumento desse telescópio?”
A rigor, o telescópio aumenta o quanto você quiser. PORÉM, quanto maior o aumento, menor será a nitidez e qualidade da imagem. O termo utilizado é AUMENTO ÚTIL, que significa o quanto é possível aumentar a imagem sem que ela perca muita qualidade. Para calcular o aumento útil, multiplique o diâmetro do telescópio por 2.
O aumento depende também da ocular, e a conta é simples: distância focal do telescópio dividida pela distância focal da ocular. Sempre faça essa conta antes de comprar uma ocular. Se o resultado for maior que o aumento útil, há grande chance de se frustrar.
Exemplo de diferentes aumentos e cálculo da magnificação. (Crédito: André Luiz da Silva)
No nosso exemplo do Aglomerado da Borboleta, temos um aumento de 1130mm/25mm = 45,2x.
CUIDADO com anúncios que prometem demais: “aumenta até 400x, 500x, 1000x!”. Se vir esse tipo de sensacionalismo, ligue o desconfiômetro na mesma hora. Anúncios ideais não prometem imagens perfeitas e mostram todas as especificações do telescópio sem rodeios.
Uma falha numa atualização de software, implementada para compensar flutuações no desempenho dos giroscópios e garantir maior estabilidade ao telescópio espacial, colocou o Hubble em modo de segurança no domingo (07/03). As operações foram retomadas na quinta (11/03), mas um de seus principais instrumentos, a WFC3 (Wide Field Camera 3), segue fora de serviço devido a um nível de tensão abaixo do nominal em seus circuitos.
Telescópio espacial Hubble e seus componentes [NASA/STScI]
Outra falha oportunamente descoberta foi um travamento do motor de acionamento da tampa de proteção frontal do telescópio, que deve se fechar caso o telescópio seja apontado na direção do Sol, evitando danos aos componentes ópticos e circuitos eletrônicos. Testes conduzidos pela equipe de solo mostraram que o motor reserva funciona normalmente e este assume agora a função de atuador primário da tampa.
Aguardamos ansiosos pela solução da pane na WFC3. E enquanto isso seguimos utilizando imagens de arquivo do Hubble em nossas oficinas de imagens astronômicas todas as quintas feiras na www.twitch.tv/ceuprofundo sempre a partir das 20h.
Nebulosa M57 – A Nebulosa do Anel. Imagem composta com dados do telescópio espacial Hubble [NASA/STScI – Wandeclayt Melo/Ceu Profundo]
O equinócio de Outono se aproxima! Vamos nos despedir do Verão no sábado 20/03 às 06:37 no horário de Brasília.
Nesta data, os raios solares iluminarão igualmente os hemisférios sul e norte da Terra e um observador situado sobre a linha do equador verá o Sol passando sobre sua cabeça ao meio dia local e neste instante uma haste vertical não projetará sombra.
Um ano de observações pelo satélite geoestacionário EUMETSAT mostram como se sucedem as as estações e como varia a iluminação em cada hemisfério ao longo do ano.
Para os observadores nas demais localidades do planeta, a menor sombra produzida por uma haste vertical neste dia (aquela produzida pelo Sol ao meio dia local) formará com a haste um triângulo que tem um dos ângulos equivalente à latitude local!
O satélite norte americano DSCOVR (Deep Space Climate Observatory) está posicionado no ponto lagrangeano L1, este é um dos pontos de equilíbrio entre as atrações gravitacionais da Terra e do Sol e nesta posição uma espaçonave se mantém fixa na linha que une a Terra ao Sol, ou seja, sua visão coincide com o ponto de vista do Sol! O DSCOVR enxerga sempre a porção iluminada da Terra e ao longo do ano é possível perceber em suas imagens como varia a iluminação sobre os hemisférios Norte e Sul, produzindo as estações.
No equinócio de 20 de março de 2020, os dois hemisférios aparecem igualmente iluminados nesta imagem da câmera EPIC do satélite DSCOVR. [NASA/NOAA/USAF.]Em 20 de junho de 2020, o Hemisfério Norte recebe mais luz que o Hemisfério Sul. Estamos no solstício de iverno do hemisfério sul e no solstício de verão do hemisfério norte. O Polo Norte é visível na imagem. [NASA/NOAA/USAF]Em 22 de setembro de 2020, os dois hemisférios estão novamente igualmente iluminados. É equinócio de primavera no Hemisfério Sul e equinócio de outono no Hemisfério Norte. [NASA/NOAA/USAF]Em 21 de dezembro de 2020 o Sol banha intensamente o Hemisfério Sul. É o nosso solstício de verão. No Hemisfério Norte, começa o inverno. O Polo Sul é visível na imagem. [NASA/NOAA/USAF]
Ficou confuso? Achou difícil visualizar? Calma! Seus problemas acabaram! Vamos ilustrar tudo isso e muito mais na sessão do Planetário Virtual Céu Profundo/Museu Interativo de Ciências nesta terça (16/03) às 20h em nosso canal no Youtube e na página do Facebook do Museu Interativo de Ciências (MIC) de São José dos Campos.
Vamos mostrar também como o céu e suas regularidades definiram nosso calendário e nosso relógio e como você também pode, através de observações, encontrar estas regularidades! Aproveite pra seguir e ativar as notificações pra não perder as próximas sessões!
Os pilares da Criação. Uma região de formação estelar a cerca de 7000 anos luz, na Nebulosa da Águia (M16) em imagem composta a partir de dados de observações do telescópio Hubble.
Uma das imagens mais marcantes produzidas pelo telescópio espacial Hubble é o registro dos Pilares da Criação, uma vasta região de formação estelar na Nebulosa da Águia (M16). Sua imagem mais famosa é composta por dados de observações realizadas pelo Hubble através de filtros que deixam passar apenas a luz nas frequências das emissões dos gases enxofre, hidrogênio e oxigênio ionizado.
Os detalhes visíveis nas colunas de hidrogênio molecular e o esplendor das cores na imagem processada são impressionantes e cativam a atenção de qualquer observador. Mas hoje queremos mergulhar no interior dos Pilares e enxergar através do gás frio. Para isso, a solução é observar através de filtros que deixam passar apenas os comprimentos de onda mais longos da luz, na faixa dos raios infravermelhos, para os quais o telescópio Hubble também é sensível. O resultado é um belo complemento ao que temos na luz visível e revela o que se esconde sob o gás!
Mosaico dos Pilares da Criação, região de formação estelar na Nebulosa da Águia (M16) composto com dados de observações do telescópio Hubble na faixa infravermelha do espectro eletromagnético. [Dados: NASA/ESA/Hubble/STScI. Processamento: Wandeclayt M./Céu Profundo]Gráficos de desempenho dos filtros opticos do telescópio Hubble no infravermelho. A observação da imagem anterior foi realizada pelo canal IR da câmera WFC3 (Wide Field Camera 3) do telescópio Hubble, utilizando o filtro F110W, um filtro optico que deixa passar apenas a radiação infravermelha na faixa entre 0.9 e 1.4 µm. [crédito: Space Telescope Science Institute (STScI)]
Para compor a imagem usamos o software gratuito SAO Image DS9. Disponível para os sistemas operacionais Linux, Mac OS X e Windows (download aqui).
Vamos agora ver como chegamos no resultado acima a partir das observações individuais. O campo do sensor infravermelho na câmera WFC3 do Hubble registra uma área do céu de menos de 3 minutos de arco (isso é 10 vezes menor que o diâmetro aparente da Lua vista da Terra). Por isso, para enxergarmos toda a área dos pilares (que na verdade medem aproximadamente 5 anos-luz) precisamos reunir várias peças em um quebra cabeças. A tarefa é razoavelmente simples, porque as imagens registram também as informações das coordenadas celestes da região observada e essa informação pode ser utilizada pelo DS9 para alinhar e unir corretamente as imagens em um mosaico.
Interface de busca da base de dados do Telescópio Hubble. Parâmetros: Target Name = M16, Radius (arcmin) = 10, Imagers = WFC3, Proposal ID = 13926, Filter/Gratings = F110W.
Buscaremos na interface de pesquisa (https://archive.stsci.edu/hst/search.php) arquivos de dados de imagem da nebulosa M16 (Target Name) num raio de 10 minutos de arco (Radius (arcmin)) , capturados com a câmera WFC3, através do filtro infravermelho de banda larga F110W (Filter/Gratings), dentro da proposta de observação 13926 (Proposal ID). Sugerimos a seleção, na janela seguinte, da extensão ‘drz‘, requisitando assim apenas arquivos calibrados e com geometria corrigida. Os arquivos serão disponibilizados em uma pasta num servidor ftp no link enviado para o email fornecido. O conjunto de imagens que requisitamos é composto pelas quatro imagens abaixo.
Observações da nebulosa M16 em infravermelho próximo, na faixa entre 0.9 e 1.4 µm [créditos: NASA/ESA/Hubble STScI]
O sistema de coordenadas embutido nos dados é o que chamamos de WCS (World Coordinate System). É graças a ele que é possível identificar a posição de estrelas e outros objetos apenas movendo o cursor sobre a imagem no DS9.
Iniciaremos criando um frame em branco no DS9 (clique nos botões [frame] e [new] na barra de botões) e adicionaremos os arquivos FITS que formarão as peças de nosso quebra cabeças através do menu “File > Open as > WCS Mosaic Segment“.
Após selecionar cada arquivo a ser adicionado ao mosaico, selecione a opção WCS na nova janela de diálogo (figura abaixo) e clique em ok. Repita a operação para todas as imagens individuais.
Após carregar todas as imagens, clique no botão [scale] e na opção [log]. Em seguida, usando o menu superior, acesse “Scale > Scale Parameters…” e ajuste os parâmetros Low e High para os valores 10 e 3000, respectivamente. Você deverá chegar no resultado abaixo. É uma bela imagem, mas podemos melhorar a visualização mudando a escala de cores de ‘grey’ para ‘bb’, utilizando a barra de botões: [color] e [bb].
Por fim, chegamos em nossa versão da mais famosa nuvem molecular do universo! Os Pilares da Criação, agora em infravermelho! Você pode experimentar outras escalas e outros valores de parâmetros, comparando os resultados. Aqui não existem escolhas certas ou erradas, é apenas uma questão de evidenciar os aspectos que mais interessem na imagem. E por vezes o aspecto mais importante é a beleza do imagem final!
Visualização final no DS9, com opção de cor “bb”. A escala selecionada é “log”, com parâmetros Low = 10 e High = 3000. [Dados: Nasa/ESA/Hubble/STScI. Processamento: Wandeclayt M.]
Rastros das rodas do jipe robô Perseverance após sua primeira movimentação na superfície de Marte [NASA/JPL-Caltech/University of Arizona]
Após o celebrado pouso na cratera Jezero, acompanhado por milhões de pessoas em todo o mundo, no dia 18/02, o jipe robô Perseverance dá os primeiros passos no terreno de Marte. As primeiras semanas após o pouso foram dedicadas a uma rotina de testes e diagnósticos de câmeras e outros sistemas e não incluíam testes de deslocamento do robô.
A primeira movimentação aconteceu no dia 04/03 e é apenas o primeiro passo na longa jornada de exploração que a Perseverance realizará durante sua missão. Em busca de traços da existência de vida primitiva microbiológica o robô desbravará o delta de um rio seco que um dia desaguou na cratera Jezero. O local exato do pouso, selecionado por um sistema autônomo de navegação que avaliava os riscos apresentados pelo relevo do terreno levou a Perseverance em segurança numa região pouco acidentada do solo. Mas a partir daqui sua tarefa exige um verdadeiro enduro para vencer dunas, encostas e terrenos pedregosos até atingir o Vale Neretva em busca de seus objetivos científicos.
A imagem acima, capturada pela câmera HiRISE, a bordo da espaçonave Mars Reconnaissance Orbiter, mostra duas rotas possíveis, em violeta e azul, para o deslocamento da Perseverance a partir do ponto do pouso (ponto branco, na imagem) até o um possível caminho (em amarelo) onde o robô estudará os sedimentos na região do delta.
Os futuros passos em Marte
Ilustração de modelo conceitual do Mars Ascent Vehicle, que enviará amostras do solo de Marte para um veículo em órbita. [NASA/JPL-Caltech]
Além dos objetivos de astrobiologia, a Perseverance também tem como missão caracterizar a geologia e o clima primitivo marciano e coletar amostras do solo para posterior envio à Terra. A campanha de recuperação das amostras já tem nome: MSR (Mars Sample Return) e envolverá as agências espaciais norte-americana e europeia, NASA e ESA, para uma complexa missão que envolverá veículos em órbita e na superfície de Marte. Na superfície, a missão Sample Retrieval Lander liberará um jipe robô (Sample Fetch Rover) para recuperar as amostras coletadas pela Perseverance e enviá-las através do Mars Ascent Vehicle (MAV) para a componente orbital da campanha. O orbitador será o responsável pelo trajeto final das amostras, de Marte para a Terra. O primeiro contrato para fornecimento de propulsores e sistemas de apoio para o MAV foi assinado com a empresa Northrop Grumman e entrou em vigor no dia 04/03. Trazer um pedaço de Marte para a Terra já é uma realidade!
– Marte a menos de 3º das Plêiades (Visível a partir do pôr do Sol durante toda a semana)
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– Lua Minguante (22:30) – Conjunção entre Júpiter e Mercúrio (menos de 0.5º) visível sobre o horizonte leste antes do nascer do Sol.
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– Lua, Saturno, Júpiter e Mercúrio juntos no horizonte leste antes do nascer do Sol. Visível até o dia 11/03.
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– Lua Nova (07:21)
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– Lua no apogeu (405,3 mil km)
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– Lua a menos de 2º de Marte (Visível após o pôr do Sol sobre o horizonte noroeste)
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– Início do Outono (Hemisfério Sul) – 06:37
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– Lua Crescente (11:40)
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– Lua Cheia (15:48)
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Marte a menos de 3º do aglomerado aberto M45 (Plêiades) na constelação de Touro, após o pôr do Sol do dia 03/03/2021. [simulação: Stellarium/Céu Profundo]Marte a menos de 3º do aglomerado aberto M45 (Plêiades) na constelação de Touro, após o pôr do Sol do dia 03/03/2021. [simulação: Stellarium/Céu Profundo]Júpiter e Mercúrio. Visão em telescópio de 1200mm de distância focal com ocular de 26mm. 05/03/2021 – Na direção do horizonte leste antes do nascer do Sol.Lua, Saturno, Júpiter e Mercúrio nos dias 09, 10 e 11/03 [simulação: Stellarium/Céu Profundo].
Além de seu avançado arsenal científico e das mais poderosas câmeras já embarcadas numa missão espacial, o jipe robô Perseverance chegou no dia 18/02 à superfície marciana levando também uma série de detalhes curiosos e bem humorados incorporados à nave pelos projetistas da missão. Acompanhe conosco alguns desses intrigantes detalhes!
1. Ousadia e alegria!
Ousadia e alegria não é exatamente a mensagem cifrada em código binário no paraquedas usado na entrada da Perseverance na atmosfera marciana, mas a ideia é a mais ou menos a mesma. Na verdade aos gomos claros e escuros no paraquedas podem ser interpretados como zeros e uns, formando um código binário que pode ser transcrito (convertendo números em posições do alfabeto) como “DARE MIGHTY THINGS” (Ouse coisas grandiosas). Esse é o lema do Jet Propulsion Laboratory (JPL) que fabricou e o opera a sonda robô. A expressão é trecho de um discurso de Theodore Roosevelt:
“Far better is it to dare mighty things, to win glorious triumphs, even though checkered by failure … than to rank with those poor spirits who neither enjoy nor suffer much, because they live in a gray twilight that knows not victory nor defeat.”
(É muito melhor ousar coisas grandiosas, para atingir gloriosos triunfos, mesmo que ameaçados pelo fracasso… que se unir às pobres almas que nem se alegram nem sofrem demais, porque vivem num crepúsculo cinzento que não conhece nem a vitória nem a derrota.)
Além do slogan, o anel externo traz as coordenadas do próprio JPL, em Pasadena, na California (EUA): N 24 11 58, W 118 10 31.
2. Retrato de família
[NASA/JPL-Caltech]Placa estampada com toda a família de jipes robôs na superfície de Marte [NASA/JPL-Caltech]
No deck superior da Perseverance, uma placa metálica traz estampada toda a família de jipes robôs enviada a Marte desde a pequena pioneira Sojourner, que iniciou a era da exploração sobre rodas em Marte em 1997, passando pelas gêmeas Spirit e Opportunity (2004), pela Curiosity (2012) e chegando à Perseverance e ao drone Ingenuity que acabam de desembarcar em Marte.
3. Onze milhões de nomes, “explorando como um”.
Chips com a gravação de 10 932 295 nomes estão incluídos nesta placa, fixada na parte traseira da Perseverance. Além disso, uma ilustração mostra uma comparação entre os diâmetros daa Terra e de Marte, enquanto no centro o Sol exibe raios que formam uma mensagem em código morse”. _.._ .__. ._.. ___ ._. . ._ … ___ _. .” (“Explore as One). [Nasa/JPL-Caltech]Imagem da NAVCAM mostrando a placa instalada na barra traseira da Perseverance. [NAVCAM – NASA/JPL-Caltech]
Numa barra instalada na estrutura traseira do robô, uma placa carrega três chips com os quase 11 milhões de nomes enviados por internautas através do site da missão Mars 2020. Cada inscrito recebe um “Cartão de Embarque” e tem seu nome eternizado na estrutura do quinto e mais avançado veículo de exploração superficial já enviado à Marte.
A placa traz ainda a uma mensagem em código morse, formada pelos raios do Sol que ilustra a figura central da placa: “. _.._ .__. ._.. ___ ._. . ._ .. ___ _. . ” (“Explore as One”).
“Cartão de Embarque” para a missão Mars 2020 [Nasa/JPL-Caltech]
4. Dois mundos, um começo.
Alvo de calibração da MASTCAM-Z, uma poderosa câmera com zoom e alta resolução instalada no mastro da Perseverance junto com as câmeras de navegação NAVCAM e a SUPERCAM. [NASA/JPL-Caltech]
O alvo de calibração da das câmeras MASTCAM-Z traz pictogramas que ilustram a trajetória evolutiva da vida no planeta Terra e junto com eles a mensagem “TWO WORLDS, ONE BEGINNING” (Dois mundos, um começo). Este alvo é uma evolução do instalado no robô Curiosity que chegou em Marte em 2012.
Alvo de calibração instalado no jipe robô Curiosity. Ao longo dos anos de operação a poeira vem se depositando sobre sua superfície, mas é possível ler a mensagem “TO MARS TO EXPLORE”.
5. Elementar, meu caro Watson…
E para encerrar, um mistério digno de Sherlock Holmes…
O braço robótico da Perseverance carrega o espectrômetro SHERLOC (Scanning Habitable Environments with Raman & Luminescence for Organics & Chemicals), que ajudará na busca por vida microbial primitiva em material coletado da superfície. Amostras da superfície também serão coletadas e armazenadas para posterior envio à Terra por uma futura missão também robótica. Para calibrar o espectrômetro e a câmera instalados no braço da Perseverance, alvos de referência estão instalados em uma placa. E num desses alvos as referências ao famoso detetive criado por Sir Arthur Conan Doyle continuam!
Os alvos incluem amostras de materiais utilizados em trajes espaciais, como teflon, vectran e policarbonato e o efeito da exposição destes materiais ao ambiente marciano também será estudado.
Mas talvez o mais curioso dos alvos seja esta moeda que traz não apenas a figura de Sherlock Holmes e de seu famoso endereço (221B, Baker Street) mas também uma mensagem escrita no código encontrado no conto “A aventura dos homenzinhos dançantes”. Você pode tentar decifrá-lo, ou ler nossa transcrição ao final do texto.
Esperamos que tenham se divertido com estes mistérios marcianos tanto quanto nós! E aqui seguiremos acompanhando as aventuras do robô Perseverance no solo de Marte, prontos pra trazer até vocês a solução para mistérios científicos que ela busca desvendar! Quem sabe logo não teremos que escrever um post sobre a descoberta de vestígios de vida primitiva na cratera Jezero? Isso certamente não seria elementar, meu caro Watson.
<INÍCIO DE SPOILER> a mensagem cifrada é “CACHE ME IF YOU CAN” (ARMAZENE-ME SE FOR CAPAZ) num trocadilho com “Catch me if you can” (Pegue-me se for capaz). <FIM DE SPOILER>
Depois da grande conjunção entre Júpiter e Saturno no fim de dezembro, a temporada de espetáculos planetários ao anoitecer chegou ao fim. Marte ainda segue visível durante a maior parte da noite, mas Júpiter e Saturno já não ornam o céu vespertino e na segunda quinzena de fevereiro ressurgem rasantes no horizonte leste ao amanhecer, ofuscados pelo brilho do Sol nascente. Mercúrio também poderá ser visto ao amanhecer, mas encontrá-lo é sempre um desafio em meio aos primeiros raios do Sol nascente.
Mas ainda assim há muito o que se observar no céu de fevereiro. Confiram em nossa agenda:
03/02/2021 – Lua 7º ao norte de Spica (alfa da Virgem). 04/02/2021 – Lua Minguante (15h) 06/02/2021 – Lua (32% iluminada) 6º ao norte de Antares (alfa do Escorpião) durante a madrugada.
Lua ao lado de Antares (Alfa do Escorpião) às 4 da manhã do dia 06/01/2021. Simulação para a cidade de São José dos Campos. [Stellarium/Ceu Profundo]
08/02/2021 – Máxima atividade da chuva de meteoros alfa-Centaurídeos (Taxa horária zenital 5~20) 11/02/2021 – Lua Nova (16h) 11/02/2021 – Vênus (magnitude -3.88) e Júpiter (magnitude -1.95) em conjunção. Visíveis sobre o horizonte leste pouco antes do nascer do Sol. 13/02/2021 – Júpiter, Venus, Mercúrio e Saturno visíveis ao nascer do Sol, sobre o horizonte leste. Os planetas estarão muito baixos sobre o horizonte e é necessário uma vista completamente desobstruída nessa direção para observá-los. 18/02/2021 – Lua a 3º de Marte. Visível a partir do pôr do Sol até às 22h30. 18/02/2021 – Pouso do Robô Perseverance em Marte. 19/02/2021 – Lua Crescente (16h) 19/02/2021 – Lua entre os aglomerados Plêiades e Híades.
Marte, Lua, Plêiades e Híades (Touro) no dia 19/01/2021. [Stellarium / Céu Profundo]
O comitê brasileiro do Telescópio Gigante Magalhães, instrumento que inaugura a era dos telescópios com mais de 20 m de diâmetro e que tem participação da agência paulista de fomento à pesquisa FAPESP, também conduz atividades de popularização e divulgação da astronomia. Uma delas é a série Fascínio do Universo, publicada no canal do YouTube do GMT Brasil.
Um novo episódio da série acaba de ser lançado, com participação do Dr. Irapuan Rodrigues, professor e pesquisador no Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) em São José dos Campos.
O episódio fala das origens do nosso universo, na grande expansão apelidada de Big Bang, evento cujos detalhes também poderão ser melhor compreendidos com as observações do Telescópio Gigante Magalhães.