Observatório Vera Rubin: O Universo Como Você Nunca Viu

O Observatório NSF-DOE Vera Rubin apresentou ao público nesta segunda (23/06) as primeiras imagens do céu capturadas por sua colossal LSST Camera de 3,3 Gigapixels no evento Rubin First Look.

A apresentação pública foi um evento mundial, transmitido online e com sessões de exibição realizadas em instituições de pesquisa e em espaços de divulgação científica em vários países.

Projeção na cúpula do planetário o evento que divulgou as primeiras imagens do Observatório Vera C. Rubin. No centro da imagem, aparece a projeção de um homem de terno falando ao microfone, com o fundo do palco exibindo logotipos e o nome do observatório. Ao redor, no teto da cúpula, vê-se a projeção de uma imagem astronômica com centenas de estrelas e galáxias sobre um fundo escuro. A sessão aconteceu no Planetário do Museu Interativo de Ciências (MIC), em São José dos Campos.
Rubin First Look – Sessão do evento de apresentação das primeiras imagens do Observatório Vera Rubin no cúpula do Planetário do Museu Interativo de Ciências de São José dos Campos – MIC.

Em São José dos Campos (SP), o Museu Interativo de Ciências (MIC) e o Projeto Céu Profundo promoveram uma sessão ao vivo do evento First Look na cúpula do planetário do MIC.

Vista aérea do Museu Interativo de Ciências. O edifício principal tem formato retangular com três andares e fachada clara. À direita, conectado ao prédio, há uma torre alta com uma cúpula no topo, onde está localizado o planetário. O entorno é arborizado, com árvores e gramados, e em frente ao prédio há um pequeno parquinho com brinquedos coloridos. Ao fundo, observa-se a cidade com edifícios e montanhas ao horizonte.
Museu Interativo de Ciências de São José dos Campos (SP). Imagem: Wandeclayt M./@ceuprofundo

Mas se as gigantescas imagens do Vera Rubin projetadas no domo do planetário já eram deslumbrantes, o choque fica ainda maior quando comparamos os detalhes capturados pela LSST Camera com as imagens do levantamento Digital Sky Survey (DSS) comumente usadas nos atlas celestes digitais.

Selecionamos abaixo alguns recortes das novas imagens e comparamos com os mesmos campos no DSS para mostrar o quanto o novo instrumento vai aprofundar nossa visão do Universo.

RSCG55 – Grupo de Galáxias em Interação

A estrutura desse grupo de galáxias, a aproximadamente 400 milhões de anos luz, é talvez o detalhe que mais nos impressionou. Além do campo extremamente rico, preenchido por galáxias elípticas e espirais, a interação entre as galáxias aprisiona nosso olhar.

Recorte de imagem capturada pelas pelo do Observatório Vera C. Rubin. A imagem mostra uma região do céu com muitas estrelas e galáxias. No centro, há um grupo de galáxias interagindo, formando caudas.
Trio de galáxias em interação na região do aglomerado de Virgem. Imagem: NSF-DOE Vera C. Rubin Observatory.

O mesmo campo, na imagem do Digital Sky Survey, nem sequer sugere a existência de toda essa fascinante fauna extra galáctica.

Mesmo campo de observação da figura anterior, só que na imagem do Digital Sky Survey. Imagem destaca  grupo de galáxias identificado como RSCG 55, localizado dentro de um círculo branco. No interior do círculo, observa-se um agrupamento de galáxias próximas entre si, com formas alongadas e brilhantes, elas estão interagindo entre si. O fundo da imagem é escuro e repleto de estrelas pontuais e outras galáxias mais distantes e difusas.

NGC 4411a e NGC 4411b (UGC 7546) – Galáxias Espirais

As galáxias espirais NGC 4411a e NGC 4411b dominam este campo, mas você não vai conseguir contar quantas outras galáxias, de diversos formatos, cores e distâncias preenchem a imagem. O mesmo campo na imagem do Digital Sky Survey mostra apenas algumas dezenas de fontes.

Recorte da região do Aglomerado de Virgem capturada pelo Observatório Vera C. Rubin. Em destaque, duas galáxias espirais brilhantes . Elas estão cercadas por outras diversas galáxias menores de diversos formatos e cores, todas distribuídas num fundo escuro e composto de diversas estrelas.
Galáxias espirais “grand design” NGC 4411a e NGC 4411b capturadas pelo Observatório Vera C. Rubin. (NSF-DOE/NoirLab/Observatório Vera C. Rubin)
Mesmo campo da figura anterior, só que na imagem do Digital Sky Survey.
Imagem do céu profundo mostrando duas galáxias espirais com etiquetas de identificação. No canto inferior esquerdo, está a galáxia UGC 7546, com braços espirais sutis e estrutura azulada. Acima e à direita, encontra-se a galáxia NGC 4411a, também espiral, com brilho central mais intenso. Ambas estão cercadas por diversas estrelas pontuais e pequenas galáxias de fundo, em um campo escuro e repleto de objetos celestes distantes.

M20 – Nebulosa Trífida

Um dos objetos mais fotogênicos do céu de inverno, a Nebulosa Trífida (M20) exibe regiões onde o gás hidrogênio excitado emite sua luz avermelhada e regiões onde a luz azulada das estrelas quentes e jovens é refletida, além de filamentos escuros de poeira que obscurecem a luz das estrelas posicionadas atrás delas.

Os detalhes e o contraste obtidos pelo Vera Rubin nos deixaram extasiados.

Imagem do Observatório Vera C. Rubin da Nebulosa de Trífida. A nebulosa apresenta região central rosada, cercada por uma área azulada.  A nebulosa está envolta por um campo estelar denso, com muitas estrelas de fundo espalhadas em tons de azul e dourado.
Nebulosa Trífida, capturada pelo Observatório Vera C. Rubin. (NSF-DOE/NoirLab/Observatório Vera C. Rubin)
Imagem da Nebulosa de Trífida em detalhe do levantamento Digital Sky Survey. A imagem está em tons de amarelo e laranja, com a nebulosa destacada ao centro em tons bem claros. A nebulosa está envolta de um campo estelar denso, com muitas estrelas de fundo.
Nebulosa Trífida em detalhe do levantamento Digital Sky survey (DSS).

M8 – Pilares de Poeira na Nebulosa da Lagoa

A Nebulosa da Lagoa (M8) é outro alvo disputado pelos telescópios amadores no céu de inverno, mas esses detalhes de sua estrutura transformam completamente nossa visão da extensa nebulosa.

 Detalhe da Nebulosa da Lagoa capturada pelo Observatório Vera C. Rubin. Na imagem, a nebulosidade é representada com uma coloração rosada e ao centro há duas regiões mais escuras trazendo um formato de pilar. Em primeiro plano, a imagem é composta de diversas estrelas com cores azuladas e alaranjadas.
Detalhe da Nebulosa da Lagoa, capturada pelo Observatório Vera C. Rubin. (NSF-DOE/NoirLab/Observatório Vera C. Rubin)
Mesma região da imagem anterior, no Digital Sky Survey. A imagem é toda alaranjada e as regiões mais escuras vistas na imagem anterior já não são tão nítidas. Em primeiro plano há diversas estrelas de cor branca espalhadas pelo campo de visão inteiro.
A mesma região da imagem anterior, no Digital Sky Survey.

Observatório Vera C. Rubin: Um Primeiro Olhar para o Futuro da Astronomia

Anúncio do Rubin's First Look. Salve a data: 23 de Junho de 2025.
NSF–DOE Vera C. Rubin Observatory revela as primeiras imagens capturadas com a LSST câmera.

O Observatório NSF-DOE Vera C. Rubin revelou nesta segunda-feira (23/06) as primeiras imagens do céu capturadas pela maior câmera do planeta! Com seus colossais 3200 Megapixels a LSST Camera, acoplada ao também revolucionário Simonyi Survey Telescope, é uma revolução em nossa maneira de explorar o Cosmos.

Do Cerro Pachón aos Limites do Universo

Construído sobre os Andes chilenos, no Cerro Pachón, vizinho aos telescópios Gemini Sul e SOAR (ambos com participação brasileira, através do Laboratório Nacional de Astrofísica, em seus consórcios), o Observatório Vera C. Rubin tem a missão de varrer o céu do hemisfério sul repetidamente durante os próximos 10 anos, coletando 20 Terabytes de dados por noite e gerando um monumental vídeo em time-lapse do Universo.

Observatório Vera C. Rubin à noite, no alto de uma montanha, com sua estrutura em branco destacando-se em primeiro plano. Ao fundo, o céu está repleto de estrelas e há um brilho suave próximo ao horizonte. A paisagem ao fundo é composta de outras montanhas; mais ao fundo é possível detectar luzes de cidade.
Observatório NSF-DOE Vera C. Rubin Observatory. Imagem: Hernán Stockebrand (NOIRLab Audiovisual Ambassador).

Essas repetidas varreduras permitirão detectar pequenas mudanças entre imagens sucessivas, como variação de brilho de estrelas ou pequenos deslocamentos de asteroides e cometas. Essas variações temporais são a chave para importantes descobertas, que vão desde novos corpos em nosso sistema solar, explosões de supernovas e até a compreensão da natureza da matéria e energia escura.

São esperados 10 milhões de alertas automatizados por noite, disparados por mudanças detectadas nas imagens.

As primeiras imagens publicadas dão uma ideia da avalanche de descobertas que nos espera. Em 7 dias de observação, as imagens revelaram 2104 asteroides! O número de asteroides conhecidos hoje, descobertos ao longo dos últimos 200 anos é de aproximadamente 1 milhão. Espera-se que o Vera Rubin descubra 5 MILHÕES de asteroides nos próximos anos!

Imagem capturada pelo Observatório Vera C. Rubin, mostrando muitas estrelas e galáxias espalhadas pelo espaço de fundo escuro. Espalhados pela imagem, há dezenas de pequenos rastros coloridos — em vermelho, verde e azul — que indicam o movimento de asteroides registrados durante a exposição da imagem.
Cada trilha colorida nesta porção de uma imagem capturada pelo Observatório Vera Rubin é o rastro de um asteroide. No total, 2104 asteroides foram descobertos no campo das primeiras imagens. https://skyviewer.app/explorer?target=186.57565+9.0373&fov=0.04

Milhões de novos asteroides serão detectados, distâncias a outras galáxias poderão ser melhor conhecidas, a distribuição da matéria escura poderá ser mapeada.

Exibir e visualizar as imagens é também um desafio, mas uma ferramenta especial foi desenvolvida para permitir a exploração em detalhes das gigantescas capturas. Acesse o portal https://skyviewer.app para mergulhar nos detalhes vertiginosos que se escondem em cada pixel das imagens da LSST Camera.

Recorte de imagem capturada pelas pelo do Observatório Vera C. Rubin. A imagem mostra uma região do céu com muitas estrelas e galáxias. No centro, há um grupo de galáxias interagindo, formando caudas.
Interface da plataforma Skyviewer, exibindo recorte de uma das primeiras imagens do Observatório Vera Rubin.

Ciência Além da Imaginação

Mas essas são apenas questões que já estão sobre a mesa da ciência atualmente. Instrumentos revolucionários como o Simonyi Survey Telescope e a LSST Camera costumam levantar questões sequer imaginadas, abrindo novas fronteiras para a ciência!

Além de imagens com detalhes sem precedentes, como a que vemos neste recorte do Aglomerado de Virgem, uma região do céu rica em galáxias brilhantes, onde nenhuma porção da imagem aparece desabitada por galáxias mais distantes, também se espera que perguntas científicas sem precedentes surjam a partir da análise dos dados.

Recorte da região do Aglomerado de Virgem capturada pelo Observatório Vera C. Rubin. Em destaque, duas galáxias espirais brilhantes . Elas estão cercadas por outras diversas galáxias menores de diversos formatos e cores, todas distribuídas num fundo escuro e composto de diversas estrelas.

O telescópio também poderá ser rapidamente redirecionado para alvos de oportunidade, apontando para fenômenos raros e transientes descobertos em outros observatórios.

O Observatório foi financiado pela National Science Foundation (NSF) e pelo Escritório de Ciência do Departamento de Energia dos EUA e é operado pelos laboratórios NOIRLab e SLAC, mas o Brasil é um elo vital na cadeia de transmissão rápida da avalanche de dados produzidos pelo Vera C. Rubin, através da infraestrutura fornecida pelo Laboratório Interinstituicional de e-Astronomia (LIneA)

A Ciência no Domínio Público

Estamos vendo o alvorecer de uma nova era na Astronomia. Com dados de qualidade e volume sem precedentes que revolucionarão nossa maneira de investigar o Cosmos. Mas o Observatório Vera C. Rubin vai além da pesquisa e tem sólidas iniciativas de educação e divulgação em Astronomia. Workshops e programas educacionais são disponibilizados em diversos idiomas e podem ser encontrados em https://rubinobservatory.org/education.

Acesse os recurso educacionais do Vera C. Rubin e aproprie-se você também dessa Ciência.