A frase que estampa em letras garrafais a capa do fictício guia que dá nome à série de livros O Guia do Mochileiro da Galáxia (The Hitchhiker’s Guide to The Galaxy) muitas vezes beira o insustentável e o instinto parece nos recomendar entrar em pânico e jogar a toalha!

Mas a sabedoria de Douglas Adams nos ensina que nunca devemos nos afastar de nossa toalha:
“A toalha”, diz o guia, “é indiscutivelmente o objeto mais incrivelmente útil que um mochileiro interestelar pode ter.”
Em parte, seu valor é prático: você pode enrolá-la no corpo para se aquecer enquanto atravessa as luas geladas de Jaglan Beta; deitá-la sobre as areias brilhantes e marmóreas das praias de Santraginus V, respirando os vapores intoxicantes do mar; usá-la como cobertor sob as estrelas rubras do deserto de Kakrafoon; ou como vela de um minibarco descendo o lento e pesado rio Moth; umedecê-la para usar como uma arma em combate corporal; cobrir a cabeça para se proteger de fumaça tóxica — ou para escapar do olhar da Fera Bugblatter Devoradora de Traal (um animal absurdamente estúpido, que acha que, se você não pode vê-la, ela também não pode vê-lo — burra como uma porta, mas extremamente faminta). Em emergências, você pode agitá-la como sinal de socorro e, claro, secar-se com ela… se ainda estiver minimamente limpa.O Guia do Mochileiro da Galáxia, Douglas Adams.
Mas o mais importante é o valor psicológico da toalha. Se um strag (strag: não-mochileiro) descobre que um mochileiro está com sua toalha, ele automaticamente presume que o sujeito também possui escova de dentes, toalhinha de rosto, sabonete, lata de biscoitos, cantil, bússola, mapa, novelo de barbante, repelente de insetos, roupa para chuva, traje espacial etc. Além disso, o strag ficará feliz em emprestar qualquer um desses itens (ou uma dúzia de outros que o mochileiro talvez tenha “perdido” acidentalmente). Porque o strag raciocina assim: se um homem é capaz de pegar carona de um extremo ao outro da galáxia, enfrentar privações, superar adversidades terríveis, triunfar e, mesmo assim, ainda sabe onde está sua toalha… esse é um homem com quem se deve contar.”
A vida, o Universo e tudo mais…
É com esse tom nonsense que os cinco livros da série cômica de ficção científica “O Guia do Mochileiro da Galáxia” nos conduzem por uma narrativa com ritmo frenético, reviravoltas mirabolantes e um humor que só poderia ter vindo de um britânico colaborador do grupo Monty Python. Por algum motivo que desconhecemos, as traduções em português escrevem “Galáxias” no plural, apesar do Guia pretender ser uma referência de planetas em nossa Via Láctea.
A obra já esteve presente em múltiplos meios: programa de rádio, série de TV, cinema… mas sua encarnação mais deliciosa talvez seja na literatura, onde Douglas Adams se permite inescrupulosamente alongar suas descrições e diálogos potencializando o clímax que nos espera na piada no fim do parágrafo.

O mote da história entrou para os anais da cultura pop: um super computador foi construído por uma raça alienígena para descobrir a resposta para a questão fundamental da vida, do universo e tudo o mais… e o computador, após milhões de anos de cálculos, chega a esse tão almejado objetivo: a resposta é 42!
Só então fica óbvio que embora agora saibamos sua resposta, ninguém sabe qual é essa questão fundamental e um computador ainda mais poderoso precisa ser construído.
A história tem como protagonistas Ford Prefect, um mochileiro que trabalha escrevendo para o Guia, uma obra que pretende ser a fonte definitiva de informação para aqueles que se aventuram a mochilar pela galáxia e Arthur Dent, um terráqueo pouco afortunado, amigo de Ford, que acaba sendo arrastado pelos acontecimentos.
A aventura tem início quando Arthur, resgatado por Ford, escapa da demolição da Terra!
Enquanto isso, somos apresentados a uma muito peculiar fauna de personagens. Marvin, o androide depressivo que rouba a cena e muitas passagens do livro, o hedonista e irresponsável, embora carismático, Zaphod Beeblebrox, e por fim, Tricia McMillian, ou Trillian, uma matemática e astrofísica terráquea que também havia deixado a Terra antes da demolição.
O Dia da Toalha
Para celebrar a influência dessa obra prima da literatura universal, o dia 25 de maio é, desde 2001, lembrado como o Dia da Toalha, ou mais genericamente, como o Dia do Orgulho Nerd.
Não se espante se nesse dia você encontrar fãs de Adams e do Guia caminhando pelas ruas com uma inseparável toalha sobre o ombro. Afinal, este é o objeto mais incrivelmente útil que um mochileiro interestelar pode ter.

O Guia do Mochileiro da Galáxia – Versões
Surgindo como um programa de rádio na BBC em 1978, a saga do Guia migrou para a literatura e deu origem a cinco livros publicados entre 1979 e 1992.
- O Guia do Mochileiro da Galáxia (1979)
- O Restaurante no Fim do Universo (1980)
- A Vida, o Universo e tudo o mais (1982)
- Até Mais e Obrigado pelos Peixes (1984)
- Praticamente Inofensiva (1992).
Uma adaptação para o cinema, estreou em 2005, com participação de Douglas Adams no roteiro, com um elenco estelar, mas longe de atingir a aclamação unânime dos fãs.