Agenda Astronômica: Janeiro de 2022

02:Lua Nova.
03:Conjunção entre Lua e Mercúrio durante o pôr do Sol.
07:

Mercúrio em máxima elongação leste, ou seja, nesta época o planeta estará visível no horizonte oeste durante o pôr do Sol.
09:Lua em Quarto Crescente.
13:Conjunção entre Mercúrio e Saturno durante o pôr do Sol.
17:


Conjunção entre Lua e a estrela Pollux.

Lua Cheia.
25:Lua em Quarto Minguante
28:

Conjunção entre Lua e a estrela Antares. Nascem no horizonte leste aproximadamente às 2:00 da manhã.
29:

Conjunção entre Lua e Marte. Os astros nascem juntos no horizonte leste aproximadamente às 3:30 da manhã.

Cometa Leonard já está visível em céus brasileiros: como localizá-lo no Stellarium Web

O Cometa C/2021 A1 (Leonard) já pode ser visto logo antes do nascer do Sol nos céus das regiões Norte e Nordeste do Brasil!

Nesse post, mostramos como utilizar o Stellarium Web (versão para navegador do simulador de céu Stellarium: https://stellarium-web.org/) para descobrir o melhor horário para observar o cometa da sua cidade.

Ao entrar no site, caso o Stellarium Web não encontre sua localização automaticamente, clique no botão inferior esquerdo para definir sua região no mapa. O botão da direita inferior abre os controles de data e horário.

Na madrugada de 06/12/2021, o cometa Leonard aparecerá no horizonte leste pouco antes do nascer do Sol, próximo à estrela Arcturus (é uma estrela bastante brilhante que você pode utilizar para se localizar no Stellarium e no céu).

Cometa Leonard no Stellarium Web: https://stellarium-web.org/skysource/Arcturus?fov=37.208&date=2021-12-06T07:10:07Z&lat=-10.18&lng=-48.33&elev=0

Assim que encontrá-lo, você pode selecionar o cometa com o mouse. O Stellarium Web abrirá uma janela à esquerda com as informações sobre visibilidade:

  • Magnitude: É o brilho aparente do cometa. Quanto menor o número, mais brilhante ele aparece no céu. Magnitude 6 é o limite de visão do olho humano em lugares livres de poluição luminosa.
  • Distance: Distância do cometa Leonard até a Terra em unidades astronômicas (1 AU é a distância média do Sol até a Terra).
  • Visibility: Período que o cometa permanece acima do horizonte da sua localização. Rise é a hora em que ele nasce no horizonte leste, e Set é a hora que ele se põe no horizonte oeste.

Quer saber mais sobre o Leonard e outros cometas? No dia 07/12/2021, terça-feira, às 20h estaremos ao vivo com o dr. Pedro Bernardinelli, descobridor do cometa gigante C/2014 UN271 (Bernardinelli-Bernstein) falando sobre esses objetos vindos dos confins do Sistema Solar! Ativa o lembrete: https://www.youtube.com/watch?v=UvXhNCFXw_c

Veja também:

Eclipse lunar de 19 de novembro de 2021

Em 19 de novembro de 2021 teremos o eclipse lunar parcial mais longo em quase 600 anos, mas infelizmente ele será pouco visível no Brasil.

Um eclipse lunar ocorre quando a Lua atravessa a sombra projetada pela Terra no espaço. A sombra é dividida em duas regiões: penumbra (borda menos escura da sombra) e umbra (região mais escura e central).

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/7c/Eclipse_lunar.svg/640px-Eclipse_lunar.svg.png
Esquema mostrando as regiões da sombra projetada pela Terra.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Eclipse_lunar.svg

Por conta disso os = eclipses lunares são classificados em penumbral (quando a Lua atravessa a penumbra – posição 2 no desenho abaixo), parcial (quando parte da Lua atravessa a umbra – posição 3) e total (quando toda a Lua atravessa a umbra – posição 4).

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/1a/Passagem_nodo_descendente.svg/640px-Passagem_nodo_descendente.svg.png
Tipos de eclipse lunar. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Passagem_nodo_descendente.svg

No dia 19, parte da Lua atravessará a penumbra e, em seguida, a umbra. Portanto, teremos uma fase penumbral, que praticamente não dá pra notar a olho nu, e em seguida um eclipse parcial.

Apesar de ser o mais longo eclipse parcial lunar em séculos a maior parte do Brasil acompanhará apenas o início do eclipse, já que a Lua já vai ter se posto no horizonte quando o fenômeno atingir seu ponto máximo.

Mapa da visibilidade do eclipse: quanto mais escura a região, melhor a visibilidade. A maior parte do Brasil verá apenas parte do eclipse parcial.

A fase penumbral será visível em praticamente todo o Brasil (ou pelo menos onde as condições climáticas forem favoráveis), começando às 3:02 da manhã (horário de Brasília), quando a Lua começa a adentrar a região da penumbra.

Esta etapa do eclipse é bastante sutil, observadores mais acostumados podem perceber a Lua um pouco escurecida em relação à Lua Cheia comum. A imagem abaixo mostra uma comparação entre a Lua Cheia antes do eclipse (esquerda) e durante um eclipse penumbral (direita).

Comparação entre a Lua cheia antes do eclipse (esquerda) e durante um eclipse penumbral (direita).
Crédito: Fred Spenak https://www.mreclipse.com/

Às 4:18 (horário de Brasília) a Lua começa a entrar na região da umbra, dando início ao eclipse parcial, visível de praticamente todo o território brasileiro. O ponto máximo acontece às 6:02 e será visível em regiões do Norte e Centro-Oeste do Brasil, e ainda estará acontecendo quando a Lua desaparecer no horizonte oeste.

Selecionamos algumas capitais localizadas em diversas longitudes para mostrar a visibilidade do eclipse pelo país. Para verificar horários, visibilidade e aspecto do eclipse em sua localização digite o nome da sua cidade no campo “Eclipse lookup” da página dedicada ao eclipse no site Time and Date: https://www.timeanddate.com/eclipse/lunar/2021-november-19.

Visibilidade do eclipse lunar parcial em algumas cidades brasileiras.

Não desanime e marque na agenda!

Em 15 de maio de 2022 haverá um eclipse total da Lua, e o Brasil INTEIRO está na melhor posição de visibilidade do evento!

Visibilidade do eclipse lunar total de 15 de maio de 2022. Quanto mais escura a área, maior a visibilidade do eclipse. Fonte: https://www.timeanddate.com/eclipse/map/2022-may-16?n=550

Boa observação a todos!

Agenda Astronômica: Outubro/2021

O Céu de outubro

O céu de outubro de 2021 é marcado pela presença de 4 planetas visíveis a olho nu: Mercúrio, Vênus, Júpiter e Saturno. A constelação de Escorpião começa a se pôr cada vez mais cedo, dando espaço para Órion (você deve conhecer uma parte dela como “3 Marias”), a constelação símbolo do verão no hemisfério Sul.

Ao percorrer o céu ao longo do mês, a Lua pode ser utilizada como um guia para indicar a localização dos planetas (dias 13, 14 e 15) e da constelação de Escorpião (dia 16).

DIAEVENTO
06Lua Nova
09Conjunção entre Lua (com luz cinérea!) e Vênus
[Visível ao anoitecer no lado oeste]
13Lua em Quarto Crescente
13, 14, 15Lua próxima de Júpiter e Saturno
16Conjunção entre Vênus e Antares (Escorpião)
[Visível ao anoitecer no oeste]
20Lua Cheia
25Conjunção entre Vênus e Antares (Escorpião)
[Visível ao anoitecer no oeste]
28Lua em Quarto Minguante
29Vênus em altura máxima no céu
[Visível durante o anoitecer no lado oeste]

A dica é utilizar o aplicativo Stellarium (gratuito para computador ou na versão web) para visualizar o aspecto do céu a partir da sua localização nas datas dos eventos que pretende acompanhar 🙂

Como Escolher um Telescópio

A aquisição mais procurada por entusiastas da observação do céu é definitivamente o primeiro telescópio. Instrumentos ópticos de qualidade infelizmente não são tão baratos, e não é raro que a frustração em mexer em um telescópio desnecessariamente complicado para um iniciante acabe o transformando num cabide de roupa no meio da sala. Por isso, escrevemos um guia para ajudar nos detalhes que precisam ser considerados ao se adquirir sem arrependimentos o primeiro telescópio, com dicas de fabricantes nacionais:

Primeira regra de ouro: aprenda o céu da sua região! Quanto mais você souber sobre os objetos que quer e pode ver, mais informação terá para auxiliar na escolha do modelo ideal. Aplicativos gratuitos de cartas celestes e simulação do céu: Stellarium, Carta Celeste, Sky Map. Para conferir a poluição luminosa da sua região: https://www.lightpollutionmap.info/. Além disso, observe se há muitas obstruções no horizonte como prédios e montanhas.

Captura de tela do aplicativo Stellarium.

Informe-se MUITO sobre os tipos de telescópios amadores e como funcionam. Você descobrirá que existem diversos modelos e a partir daí pode começar a refinar a sua procura de acordo com seu orçamento, necessidades e limitações. Já fizemos um post sobre os tipos de telescópios aqui: http://ceuprofundo.com/2020/12/31/conhecendo-os-tipos-de-telescopio/

Which Telescope Is Better: A Reflector Or Refractor?
Alguns tipos de telescópios. (Fonte: Astronomy Trek)

Há outras questões além do céu que devem ser consideradas, como se o telescópio precisa ser leve e prático para ser transportado (a casa tem escadas, por exemplo?) e quanto espaço há disponível para observação e para guardar o equipamento.

Binóculos são uma excelente opção para começar a prática da observação. Possuem preços mais acessíveis e são de fácil manuseio, permitindo que a observação e o estudo do céu sejam suas únicas preocupações no início.

“Até onde esse telescópio vê?”

O telescópio não trabalha com limites de distância, mas sim de brilho. Quanto mais brilhante o objeto aparece no céu, mais nítida será a imagem dele. Há objetos na nossa própria galáxia mais difíceis de observar do que outras galáxias.

Pense no telescópio como um balde de coletar luz para os nossos olhos. Quanto maior for o diâmetro do telescópio, mais luz ele captura e, consequentemente, mais definição e objetos menos brilhantes é possível ver com ele. O pessoal do DeepSkyWatch fez uma comparação muito boa entre os objetos vistos por diferentes telescópios e céus: http://www.deepskywatch.com/Articles/what-can-i-see-through-telescope.html.

Um dos recursos do Stellarium é a simulação de telescópios, no menu superior direito, com o qual é possível ter uma ideia de como um objeto aparece na imagem de acordo com as configurações do telescópio que você estiver considerando adquirir.

Captura do programa Stellarium. A opção de simulação de telescópios está circulada em vermelho.
Simulação do Aglomerado da Borboleta visto por um telescópio de 254mm de diâmetro e 1130mm de distância focal, com uma ocular de 25mm.

Além da imagem

O telescópio é composto por diversas partes. Uma delas é a montagem, a parte do telescópio que fica encaixada entre o tubo e o tripé – ela não é soldada, o que significa que você pode trocá-la por outra a qualquer momento.

No modelo azimutal, o telescópio fica livre para se movimentar para todos os lados, não tem segredo. O modelo equatorial tem vantagens, mas com um preço: é mais robusta de se manuear e tem movimentação mais trabalhosa.

Claro que todo mundo tem capacidade de aprender a usar a montagem equatorial! Mas se você for iniciante, talvez queira investir mais tempo explorando o céu do que se preocupando com montagens robustas e caras que talvez sejam desnecessárias para você no início. Recomenda-se começar com a mais simples (azimutal) e substitui-la no futuro caso seja uma necessidade do observador.

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Exemplos de montagens de telescópios.

Todo telescópio precisa de pelo menos uma ocular. Preste atenção se o telescópio já vem com uma ou se é vendida separadamente. São facilmente intercambiáveis e podem ser compradas em kit ou avulsas a qualquer momento. Não precisa comprar um lote inteiro de cara sem saber se são compatíveis com padrão do telescópio e se serão úteis para você.

Diferentes oculares. (Fonte: Wikipedia)

“Qual o aumento desse telescópio?”

A rigor, o telescópio aumenta o quanto você quiser. PORÉM, quanto maior o aumento, menor será a nitidez e qualidade da imagem. O termo utilizado é AUMENTO ÚTIL, que significa o quanto é possível aumentar a imagem sem que ela perca muita qualidade. Para calcular o aumento útil, multiplique o diâmetro do telescópio por 2.

O aumento depende também da ocular, e a conta é simples: distância focal do telescópio dividida pela distância focal da ocular. Sempre faça essa conta antes de comprar uma ocular. Se o resultado for maior que o aumento útil, há grande chance de se frustrar.

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Exemplo de diferentes aumentos e cálculo da magnificação. (Crédito: André Luiz da Silva)

No nosso exemplo do Aglomerado da Borboleta, temos um aumento de 1130mm/25mm = 45,2x.

CUIDADO com anúncios que prometem demais: “aumenta até 400x, 500x, 1000x!”. Se vir esse tipo de sensacionalismo, ligue o desconfiômetro na mesma hora. Anúncios ideais não prometem imagens perfeitas e mostram todas as especificações do telescópio sem rodeios.

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Marcas com boa qualidade e sem enganação com o consumidor: Celestron, Sky-Watcher, Orion, Meade, GSO.

Hoje, temos excelentes fabricantes brasileiros(!!!): Dario Pires, Sebastião Santiago Filho, Sandro Coletti, Rodolfo Langhi, Telescópios Matão. Os telescópios desses fabricantes são tão bons quanto os importados, e duram anos se você cuidar deles com carinho e do modo adequado.

A grande conjunção de 2020

Nas últimas semanas surgiram várias matérias na imprensa e posts em redes sociais chamando a atenção para a rara aproximação entre os planetas Júpiter e Saturno no dia 21/12/2020: é que chamamos de uma GRANDE CONJUNÇÃO.


A visão a olho nu será mesmo espetacular, e pra quem tem um telescópio o evento fica ainda mais fabuloso: vai ser possível ver os dois os planetas ao mesmo tempo pela ocular! (Já estamos esperando as imagens fantásticas.)

A separação entre os dois vai ser de apenas 1/5 do diâmetro aparente da Lua.

Júpiter e Saturno observados no telescópio com aumento de 80x no dia 21/12/2020 [Simulação: Stellarium]
A dois dias da grande conjunção Júpiter e Saturno aparecem com apenas 13 minutos de arco de separação nesta imagem registrada com teleobjetiva de 200mm em São José dos Campos – SP. (Wandeclayt Melo/Ceu Profundo)
Um registro raro: Júpiter e Saturno juntos no campo da ocular do telescópio em 19/12/2020. SkyWatcher Dobsoniano de200mm de diâmetro, F/6. Canon EOS 7D no foco principal. (Wandeclayt Melo/Ceu Profundo).

Onde? Quando? Como?

Para ter a real dimensão do que está acontecendo é só começar a observar hoje e seguir observando os dois planetas logo após o pôr do Sol até o início de janeiro. Vai ser notável que cada dia os planetas parecerão mais próximos, até o grande encontro do dia 21, e em seguido voltarão a se afastar.

O fenômeno é visível em todo o Brasil logo após o pôr do Sol, olhando na direção do horizonte oeste. Mas dura pouco: após as 20:30 eles já estão desaparecendo na mesma região em que o Sol desapareceu. Lembrando que Júpiter e Saturno são brilhantes o suficiente para serem observados a olho nu mesmo nos céus contaminados pela poluição luminosa das grandes cidades.

Esse é um evento raro?

Júpiter completa uma volta em torno do Sol aproximadamente a cada 12 anos, enquanto Saturno leva um pouco mais de 29 anos para completar sua órbita. Observando esses movimentos combinados aqui da Terra, vemos esses planetas de encontrando aproximadamente a cada 20 anos. Então as Grandes Conjunções não são eventos assim tão raros, mas em geral a aproximação não é tão dramática. O mais comum é que os planetas permaneçam separados por mais de 1º. Na Grande Conjunção de 2020, teremos apenas 0,1º de separação! A olho nu vai ser um desafio separar os dois planetas!

A última vez que tivemos uma Grande Conjunção como essa visível foi em plena Idade Média! No dia 5 de Março de 1226, Júpiter e Saturno se cruzaram com apenas 0,02º de separação.

Júpiter e Saturno na Grande Conjunção de 2020, com 6 minutos de arco (0,1º) de separação.
[Simulação: Stellarium]
Júpiter e Saturno na Grande Conjunção de 1226, com 2 minutos de arco (0,02º) de separação.
[Simulação: Stellarium]

Mas essa vai ser uma oportunidade única, porque outra Grande Conjunção em que os dois planetas vão estar a menos de 1º de separação (e portanto quase parecendo um só) vai acontecer apenas em 14 de março de 2080. Ou seja, vai demorar um pouquinho.

E vale ressaltar: a aproximação entre eles se dá por um efeito de perspectiva. Eles não estão realmente próximos! As órbitas dos planetas do Sistema Solar são estáveis e vão permanecer assim por muito tempo. No momento, Júpiter e Saturno estão a mais de 730 milhões de km de distância um do outro, quase 5 vezes a distância entre a Terra e o Sol.

Júpiter e Saturno aparentam estar muito próximos apenas quando vistos por um observador na Terra. [Simulação: theskylive.com]

Coincidentemente nesse mesmo dia temos mais dois fenômenos astronômicos: a Lua vai estar em seu quarto crescente, exatamente 50% iluminada (visível ao anoitecer também), e é dia de Solstício de Verão aqui no hemisfério sul, mais precisamente às 07h02 da manhã.

Agora é torcer pro tempo colaborar e o céu ficar limpo!

Boas observações!