Flagramos uma erupção solar! E seu tamanho é assustador!

Violência não é a resposta. Violência é a pergunta! E quando estamos falando de erupções solares a resposta é sim!

Erupções, flares e ejeções coronais de massa são violentos eventos produzidos por nosso Sol e que disparam um canhão de partículas eletricamente carregadas que se espalham pelo meio interplanetário e chegam a atingir a Terra, interagindo com nossa magnetosfera e produzindo efeitos como as belas auroras ou como inconvenientes interferências na ionosfera terrestre que afetam a propagação de sinais eletromagnéticos de comunicação e navegação.

Erupção registrado no limbo solar pelo satélite SDO da NASA.

Para falar com propriedade sobre as erupções e outros fenômenos solares, chamamos um reforço à altura da grandiosidade do evento: Dra. Claudia Medeiros, do canal Mais Que Raios, que complementa:

“Erupções solares costumam estar associadas também com as ejeções de massa coronal. Nessas espetaculares emissões, material solar relativamente mais frio que o entorno é liberado para o espaço com uma velocidade alta e pode se propagar em direção a Terra. Felizmente, apesar de imensa, essa estrutura se dissipa ao longo do caminho mas não sem antes deixar sua energia e campo magnético atuarem no espaço próximo e nesse caso, incluindo a Terra.”

Mas apesar destes eventos se tornarem mais frequentes à medida que o Sol se aproxima do máximo de atividade em um ciclo que se repete a cada 11 anos, flagrar ao telescópio uma grande erupção não é algo muito comum.

Mas eis que no dia 24 de dezembro ganhamos um presente inesperado de Natal! O presente chegou através de um telescópio especial para observação solar, equipado com um filtro que deixa passar apenas uma pequena fração de luz vermelha emitida por átomos de hidrogênio. Essa emissão, que chamamos de H-alfa, nos permite visualizar filamentos e protuberâncias ao observar o Sol. E na imagem acima, feita apressadamente pra não perder o registro do evento, flagramos uma gigantesca erupção no limbo solar!

A imagem foi feita com uma câmera DSLR (que não é o equipamento mais adequado para esse registro mas era o que permitiria uma captura mais rápida) e é uma combinação de poucos frames, com ajustes ligeiramente diferentes para capturar o máximo possível da estrutura. Infelizmente, quando montamos um arranjo com equipamento mais adequado, a estrutura já havia se desfeito, mas além do registro rápido com a DSLR, ficaram as lembranças de uma imagem muito mais rica visível diretamente na ocular do telescópio.

Mas queríamos ver em detalhes e ter uma ideia mais precisa das dimensões dessa colossal erupção! E para isso podemos sempre contar com o Solar Dynamics Observatory (SDO)! Um observatório solar orbital, equipado com câmeras que registram o Sol continuamente em imagens no ultravioleta. Sabendo o horário e data do evento, é possível pesquisar na base de dados pública do SDO e acessar imagens em diferentes comprimentos de onda para visualizar com excelente resolução erupções, flares e ejeções de massa!

O gigantismo da erupção salta aos olhos quando vemos o tamanho da Terra representado nas imagens para comparação. A imponente estrutura se ergue por mais de 250 mil km antes de se romper.

A dra. Claudia complementa:

“Apesar de ter acontecido no limbo, o que nos dá a possibilidade de, por contraste, medir suas dimensões que, conforme medido pelo Céu Profundo, atingiu mais de 250 mil Km, não foi possível observar a região ativa que deu origem a sua existência. Passados alguns dias pudemos observar a chance de ela estar associada a uma região ativa enumerada pela NOAA AR3534. Essa região está caminhando para o centro do disco solar e pode ser ainda protagonista de novas erupções solares, flares e até mesmo CME.

E tudo isso porque regiões ativas são coleções de manchas solares no Sol. Essas manchas solares possuem um campo magnético distorcido pela rotação do Sol e acabam por afetar o transporte de calor da zona convectiva, deixando ela mais fria que o entorno. Quando essas linhas de campo magnético se esticam, podem promover uma reconexão magnética liberando energia na forma de radiação, partículas e carregando propriedades do plasma solar para o meio interplanetário. Felizmente podemos observar esse fenômeno acontecendo pois eles emitem luz em diversos comprimentos de ondas, basta ter o equipamento certo ou aproveitar as ferramentas disponíveis na internet com os dados medidos das sondas espaciais.”

E a melhor parte é que essas imagens e dados estão disponíveis para pesquisadores profissionais e cientistas cidadãos e se você quer também ficar de olho na atividade do Sol, as imagens do Solar Dynamics Observatory podem ser encontradas no portal https://sdo.gsfc.nasa.gov/. Acesse, pesquise e se divirta e não esqueça de compartilhar conosco seus flagras dos violentos, mas sempre belos, eventos registrados nas imagens do SDO.

A Polêmica do Sol Esburacado!

O Sol observado no ultravioleta extremo, no canal de 193 Angstroms do instrumento AIA do telescópio SDO entre os dias 8 e 10 de dezembro de 2023. [NASA/SDO/AIA].

Dizer que um “buraco” surgiu no Sol, como vimos em muitos posts, ou mesmo chamar de “cratera” como vimos em uma matéria do jornal o Globo reproduzida no G1 pode gerar um pouco de confusão em quem lê (Ganhando o selo “Céu Profundo – Não é bem Assim!”).

Não é bem assim!

O Sol não tem uma superfície sólida como a Terra ou Lua. E portanto não se formam crateras no Sol. O que costumamos considerar como sua superfície é a camada que chamamos de ‘fotosfera’. A fotosfera é relativamente fria (menos de 6000 graus C) se a compararmos com seu núcleo, que atinge 15 milhões de graus.
Não tivemos nenhum buraco na fotosfera do Sol. O que vimos nas imagens foi uma falha nas camadas exteriores do Sol, a Coroa (ou Corona), que é uma região pouco densa mas muito quente (excedendo 1 milhão de graus) e que se eleva bem acima da fotosfera.

Não é bem assim: O Globo publicou uma boa matéria sobre o buraco coronal, mas usar o termo “cratera’ no título causa confusão (ninguém chama o buraco na camada de ozônio da Terra de cratera!). [imagem: reprodução/O Globo/NASA/SDO/AIA]

Nas últimas imagens capturadas pelo observatório espacial SDO, da NASA, a coroa aparece mais calma, mas é possível ver buracos coronais nas imagens em 193Å (esse é o comprimento de onda da luz registrada na imagem e fica na faixa do ultravioleta extremo) e muitas manchas na fotosfera nas imagens do instrumento HMI.

As câmeras do SDO registram imagens em preto e branco, mas para cada filtro utilizado as imagens recebem cores distintas.

Manchas solares. Regiões mais frias na fotosfera do Sol entre os dias 8 e 10 de dezembro de 2023. [NASA/SDO/HMI]

O SDO é um dos telescópios que monitora constantemente o Sol e nos ajuda a prever a chegada de partículas carregadas eletricamente ocasionalmente ejetadas pelo Sol em nossa direção. Essas partículas interagem com a atmosfera e com o campo magnético terrestre, podendo provocar interferência nas comunicações, no funcionamento de satélites e até em redes de transmissão de energia, sobretudo em altas latitudes, mais próximas dos polos magnéticos da Terra. Mas não são motivo para preocupação generalizada.

O Sol, visto no canal de 171Å do instrumento AIA do telescópio SDO. [NASA/SDO/AIA]
O Sol, visto no canal de 304Å do instrumento AIA do telescópio SDO.

imagens [NASA/SDO – HMI e AIA]

Observando o Eclipse Solar: Todas as Dicas.

Eclipse solar do dia 02 de Julho de 2019 em Vicuña, no Chile. [Wandeclayt Melo/Céu Profundo].

Um eclipse total do Sol costuma atrair multidões para a estreita faixa onde a totalidade é visível. Foi assim no dia 2 de julho de 2019, quando uma das mais privilegiadas regiões do mundo para a astronomia foi presenteada com um eclipse total. Mais de 280 mil pessoas, de todo o mundo, concentraram-se na região de Coquimbo, no norte do Chile, para testemunhar pouco mais de dois minutos de escuridão em pleno dia. A região é famosa por abrigar grandes telescópios em observatórios famosos como o Observatório Interamericano de Cerro Tololo, ESO – Cerro La Silla, Gemini Sul e SOAR.

O “anel de diamante” é uma das mais belas fases de um eclipse total, formado instantes antes da totalidade. Imagem registrada em 2 de julho de 2019, em Vicuña (Chile). [Wandeclayt Melo/Céu Profundo].

Nesta segunda (14/12), o Chile é novamente agraciado com um eclipse total do Sol, desta vez cobrindo a bela região de lagos e vulcões ao Sul do país, passando pelas cidades de Pucón e Villarrica. Infelizmente, o cenário é bem diferente daquele do já distante julho de 2019. Em meio à pandemia da COVID-19, as multidões de caçadores de eclipses não poderão seguir sua peregrinação em busca da sombra da Lua. Mas mesmo sem poder viajar para observar a totalidade do eclipse, observadores em grande parte do Brasil poderão testemunhar parte do fenômeno.

Faixas de visibilidade do eclipse solar do dia 14 de dezembro de 2020. [gráfico: timeanddate.com]

Segurança em primeiro lugar!

Mas antes de tudo, três regras fundamentais:

  • Jamais olhe diretamente para o Sol!
  • Jamais olhe diretamente para o Sol!
  • E nunca é demais repetir: Jamais olhe diretamente para o Sol!


Use filtros apropriados para observação solar e na ausência desses, use filtros para solda elétrica Nº 14 (Você pode encontrá-los em lojas de ferragens ou de materiais de construção). Olhar diretamente para o Sol pode causar danos irreversíveis à visão.

Agora que você já memorizou essas três importantes regras podemos seguir adiante!

Quando e onde observar?

Observadores no Rio Grande do Sul observarão a Lua ocultando entre 50% e 60% do Sol e à medida que nos afastamos para o norte veremos uma fração progressivamente menor do Sol ser encoberta pela Lua. O eclipse não é observável no Amazonas, Roraima, Pará, Maranhão, norte do Tocantins, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.

Fique de olho nos horários do máximo do eclipse (no fuso horário local) e na porção do Sol encoberta pela Lua em sua cidade:

Pelotas – Máximo do eclipse 13:47h (61% Eclipsado)
Porto Alegre – Máximo do eclipse 13:51h (54% Eclipsado)
Santa Maria – Máximo do eclipse 13:43h (53% Eclipsado)
Florianópolis – Máximo do eclipse 13:58h (45% Eclipsado)
Curitiba – Máximo do eclipse 13:57h (37% Eclipsado)
Londrina – Máximo do eclipse 13:51h (30% Eclipsado)
São Paulo – Máximo do eclipse 14:05h (31% Eclipsado)
São José dos Campos – Máximo do eclipse 14:07h (31% Eclipsado)
Campinas – Máximo do eclipse 14:04h (29% Eclipsado)
São José do Rio Preto – Máximo do eclipse 13:57h (22% Eclipsado)
Rio de Janeiro – Máximo do eclipse 14:14h (31% Eclipsado)
Vitória – Máximo do eclipse 14:22h (24% Eclipsado)
Belo Horizonte – Máximo do eclipse 14:13h (21% Eclipsado)
Uberlândia – Máximo do eclipse 14:02h (19% Eclipsado)
Campo Grande – Máximo do eclipse 12:39h (21% Eclipsado)
Cuiabá – Máximo do eclipse 12:32h (8% Eclipsado)
Brasília – Máximo do eclipse 14:03h (8% Eclipsado)
Salvador – Máximo do eclipse 14:30h (6% Eclipsado)
Aracaju – Máximo do eclipse 14:34h (3% Eclipsado)
Maceió – Máximo do eclipse 14:37h (2% Eclipsado)
Recife – Máximo do eclipse 14:39h (0,5% Eclipsado)

Para outras localidades, consulte o serviço www.timeanddate.com

E a meteorologia?

Cobertura de nuvens de grande altitude durante o eclipse. [Windy.com]

A meteorologia não está com grande disposição para ajudar os observadores deste eclipse. Nuvens de grande altitude cobrem a maior parte do território brasileiro, comprometendo nossa observação. Se serve de consolo, para a região de Pucón e Villarrica, no Chile, o prognóstico também não é muito favorável e seria ainda mais frustrante estar lá e não conseguir observar. 🙁