Marte encontra Urano!

Um mês após o espetáculo exuberante da Grande Conjunção de Júpiter e Saturno em dezembro de 2020, uma dupla bem mais discreta se forma nos céu de janeiro, especialmente entre os dias 18 e 21: Marte e o distante Urano se alinham no céu noturno e oferecem uma excelente oportunidade para observação com binóculos ou pequenos telescópios.

Quando em oposição, Urano atinge magnitude 5.5, o que o coloca dentro do limite de visibilidade a olho nu para observadores em regiões muito escuras, longe da poluição luminosa das áreas urbanas. Mas isto não o torna um alvo fácil. Seu discreto tamanho angular não torna fácil diferenciá-lo das estrelas observadas no mesmo campo. Apenas o tom azul esverdeado o denuncia. Então, a presença de um objeto de referência, como Marte, torna mais fácil o trabalho de localizá-lo no céu, sobretudo para iniciantes.

Então vamos às dicas: a máxima aproximação acontece na noite do dia 20/01, quando os planetas estarão separados por pouco mais de 1,5º na esfera celeste. Isso corresponde a 6 vezes o diâmetro aparente da Lua Cheia.

Lua, Marte e Urano no dia 20/01/2021 [Simulação: Stellarium]

Na mesma data (20/01), a Lua também se junta à composição, passando a pouco menos de 7º ao Sul da dupla de planetas.

Lua, Marte e Urano no dia 20/01/2021 [Simulação: Stellarium]
Céu sobre o horizonte noroeste às 20h do dia 20/01/2021 em São José dos Campos (SP) [simulação: Stellarium]

Para encontrar esses astros reunidos, olhe na direção noroeste por volta das 20h. Marte é o objeto mais brilhante e avermelhado nesta direção. Mas cuidado para não confundir: um pouco mais ao Norte, um outro astro vermelho pode chamar a atenção – Aldebaran, a estrela mais brilhante na constelação do Touro. A configuração não muda muito durante a semana e a única diferença significativa é a presença da Lua no dia 20.

A grande conjunção de 2020

Nas últimas semanas surgiram várias matérias na imprensa e posts em redes sociais chamando a atenção para a rara aproximação entre os planetas Júpiter e Saturno no dia 21/12/2020: é que chamamos de uma GRANDE CONJUNÇÃO.


A visão a olho nu será mesmo espetacular, e pra quem tem um telescópio o evento fica ainda mais fabuloso: vai ser possível ver os dois os planetas ao mesmo tempo pela ocular! (Já estamos esperando as imagens fantásticas.)

A separação entre os dois vai ser de apenas 1/5 do diâmetro aparente da Lua.

Júpiter e Saturno observados no telescópio com aumento de 80x no dia 21/12/2020 [Simulação: Stellarium]
A dois dias da grande conjunção Júpiter e Saturno aparecem com apenas 13 minutos de arco de separação nesta imagem registrada com teleobjetiva de 200mm em São José dos Campos – SP. (Wandeclayt Melo/Ceu Profundo)
Um registro raro: Júpiter e Saturno juntos no campo da ocular do telescópio em 19/12/2020. SkyWatcher Dobsoniano de200mm de diâmetro, F/6. Canon EOS 7D no foco principal. (Wandeclayt Melo/Ceu Profundo).

Onde? Quando? Como?

Para ter a real dimensão do que está acontecendo é só começar a observar hoje e seguir observando os dois planetas logo após o pôr do Sol até o início de janeiro. Vai ser notável que cada dia os planetas parecerão mais próximos, até o grande encontro do dia 21, e em seguido voltarão a se afastar.

O fenômeno é visível em todo o Brasil logo após o pôr do Sol, olhando na direção do horizonte oeste. Mas dura pouco: após as 20:30 eles já estão desaparecendo na mesma região em que o Sol desapareceu. Lembrando que Júpiter e Saturno são brilhantes o suficiente para serem observados a olho nu mesmo nos céus contaminados pela poluição luminosa das grandes cidades.

Esse é um evento raro?

Júpiter completa uma volta em torno do Sol aproximadamente a cada 12 anos, enquanto Saturno leva um pouco mais de 29 anos para completar sua órbita. Observando esses movimentos combinados aqui da Terra, vemos esses planetas de encontrando aproximadamente a cada 20 anos. Então as Grandes Conjunções não são eventos assim tão raros, mas em geral a aproximação não é tão dramática. O mais comum é que os planetas permaneçam separados por mais de 1º. Na Grande Conjunção de 2020, teremos apenas 0,1º de separação! A olho nu vai ser um desafio separar os dois planetas!

A última vez que tivemos uma Grande Conjunção como essa visível foi em plena Idade Média! No dia 5 de Março de 1226, Júpiter e Saturno se cruzaram com apenas 0,02º de separação.

Júpiter e Saturno na Grande Conjunção de 2020, com 6 minutos de arco (0,1º) de separação.
[Simulação: Stellarium]
Júpiter e Saturno na Grande Conjunção de 1226, com 2 minutos de arco (0,02º) de separação.
[Simulação: Stellarium]

Mas essa vai ser uma oportunidade única, porque outra Grande Conjunção em que os dois planetas vão estar a menos de 1º de separação (e portanto quase parecendo um só) vai acontecer apenas em 14 de março de 2080. Ou seja, vai demorar um pouquinho.

E vale ressaltar: a aproximação entre eles se dá por um efeito de perspectiva. Eles não estão realmente próximos! As órbitas dos planetas do Sistema Solar são estáveis e vão permanecer assim por muito tempo. No momento, Júpiter e Saturno estão a mais de 730 milhões de km de distância um do outro, quase 5 vezes a distância entre a Terra e o Sol.

Júpiter e Saturno aparentam estar muito próximos apenas quando vistos por um observador na Terra. [Simulação: theskylive.com]

Coincidentemente nesse mesmo dia temos mais dois fenômenos astronômicos: a Lua vai estar em seu quarto crescente, exatamente 50% iluminada (visível ao anoitecer também), e é dia de Solstício de Verão aqui no hemisfério sul, mais precisamente às 07h02 da manhã.

Agora é torcer pro tempo colaborar e o céu ficar limpo!

Boas observações!